João Miguel Tavares, Correio da Manhã
«Há um lado olímpico em ter muitos filhos. Eles testam os nossos limites e são um desafio permanente»
«Há um lado olímpico em ter muitos filhos. Eles testam os nossos limites e são um desafio permanente»
Há dias, uma leitora, farta de me ouvir
resmungar, fez-me esta pergunta: se eu me queixo tanto dos miúdos, se eles me
dão cabo da cabeça e me tiram tanto tempo, por que raio decidi eu tê-los, e
ainda por cima logo quatro? E de repente, percebi que nunca respondi cabalmente
a esta importantíssima questão. Porquê?, de facto. Vai daí, decidi alinhavar 10
razões para ter filhos, como penitência por estar sempre a dar razões para não
os ter.
1.ª – A razão ontológica. Ser ou não ser não é para mim uma questão. Sófocles escreveu que o mais feliz dos seres era aquele que nunca tinha nascido. Faulkner escreveu que entre a dor e o nada, escolhia a dor. Eu voto em Faulkner. Mil vezes ser do que não ser. E nascer é fazer ser.
2.ª – A razão estoica Há um lado olímpico em ter muitos filhos. Eles testam os nossos limites e são um desafio permanente às nossas capacidades físicas e mentais. Não sou capaz de saltar à vara nem de correr a maratona. Mas criar quatro putos dá uma abada a tudo isso.
3.ª – A razão ulrichiana. Numa civilização acolchoada, sem guerras nem catástrofes, o pessoal tende a amolecer e a confundir chatices com tragédias. Ter muitos filhos sintoniza-nos com a máxima do banqueiro Fernando Ulrich: «Ai aguenta, aguenta». Que remédio.
4.ª – A razão romântica. Quando se ama alguém, os desejos do outro contam. Se a felicidade da minha mulher passa por ter uma família grande e se a minha felicidade passa pela felicidade da minha mulher, então a minha felicidade passa por ter uma família grande. Chama-se a isto «propriedade transitiva». É muito importante na matemática. E no amor.
5.ª – A razão revolucionária. Citando o sábio Tiago Cavaco na luminosa canção «Faz Filhos»: nos nossos dias «constituir família é a suprema rebeldia». Ambos partilhamos a fé neste verso: «Conquistas fabulosas através das famílias numerosas.»
6.ª – A razão coppoliana. Está escrito em «Lost in Translation», de Sofia Coppola: «O dia mais assustador da nossa vida é o dia em que o primeiro nasce. A tua vida, tal como a conheces, acabou. Para nunca mais voltar. Mas eles aprendem a falar e aprendem a andar, e tu queres estar com eles. E eles acabam por se tornar as pessoas mais adoráveis que irás conhecer em toda a tua vida.»
7.ª, 8.ª, 9.ª e 10.ª – As mais importantes razões de todas. Carolina, Tomás, Gui e Rita. Se calhar, eu até passava bem sem filhos. Mas não sem eles.
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1.ª – A razão ontológica. Ser ou não ser não é para mim uma questão. Sófocles escreveu que o mais feliz dos seres era aquele que nunca tinha nascido. Faulkner escreveu que entre a dor e o nada, escolhia a dor. Eu voto em Faulkner. Mil vezes ser do que não ser. E nascer é fazer ser.
2.ª – A razão estoica Há um lado olímpico em ter muitos filhos. Eles testam os nossos limites e são um desafio permanente às nossas capacidades físicas e mentais. Não sou capaz de saltar à vara nem de correr a maratona. Mas criar quatro putos dá uma abada a tudo isso.
3.ª – A razão ulrichiana. Numa civilização acolchoada, sem guerras nem catástrofes, o pessoal tende a amolecer e a confundir chatices com tragédias. Ter muitos filhos sintoniza-nos com a máxima do banqueiro Fernando Ulrich: «Ai aguenta, aguenta». Que remédio.
4.ª – A razão romântica. Quando se ama alguém, os desejos do outro contam. Se a felicidade da minha mulher passa por ter uma família grande e se a minha felicidade passa pela felicidade da minha mulher, então a minha felicidade passa por ter uma família grande. Chama-se a isto «propriedade transitiva». É muito importante na matemática. E no amor.
5.ª – A razão revolucionária. Citando o sábio Tiago Cavaco na luminosa canção «Faz Filhos»: nos nossos dias «constituir família é a suprema rebeldia». Ambos partilhamos a fé neste verso: «Conquistas fabulosas através das famílias numerosas.»
6.ª – A razão coppoliana. Está escrito em «Lost in Translation», de Sofia Coppola: «O dia mais assustador da nossa vida é o dia em que o primeiro nasce. A tua vida, tal como a conheces, acabou. Para nunca mais voltar. Mas eles aprendem a falar e aprendem a andar, e tu queres estar com eles. E eles acabam por se tornar as pessoas mais adoráveis que irás conhecer em toda a tua vida.»
7.ª, 8.ª, 9.ª e 10.ª – As mais importantes razões de todas. Carolina, Tomás, Gui e Rita. Se calhar, eu até passava bem sem filhos. Mas não sem eles.
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