Ana Sá Lopes,
Jornal i, 22 de Abril de 2015
O programa ontem apresentado pelo PS facilita os
despedimentos, abraça a outrora criticada TSU e dá um tiro de canhão na
sustentabilidade da Segurança Social
Já sabíamos que a social-democracia europeia era
uma corrente política em coma profundo – ou que já morreu e ninguém nos avisou.
Através do chamado «consenso europeu» tem acumulado derrotas sobre derrotas
político-ideológicas. Ontem, foi a vez do PS português nos mostrar a sua versão
particular desta derrota: inventou uma liberalização de despedimentos,
recuperou a Taxa Social Única e decidiu dar um pontapé na sustentabilidade da
Segurança Social para as gerações futuras.
O nosso mundo torna-se absolutamente estranho
quando uma deputada do CDS, Cecília Meireles, consegue ser mais «à esquerda»
que um grupo de economistas que António Costa convidou para fazer o
pré-programa de governo. Disse Cecília Meireles, lembrando que o CDS sempre
defendeu um regime opcional sobre os descontos para a Segurança Social: «O PS
vem agora propor um sistema obrigatório, a partir de determinado montante não
são pagas contribuições e as pensões sofrem o respectivo corte». Para o CDS,
isto é um «ataque à sustentabilidade da Segurança Social». Para o PS, partido
que se arvora em defensor do Estado social, pelos vistos não.
António Costa e os seus economistas embrulham a
ideia com a cenoura de, ao aumentar o rendimento disponível do trabalhador,
aumentar a procura interna e, logo, o emprego, gerando mais contribuições para
a Segurança Social. Mas a decisão de reduzir a TSU para empresários e
trabalhadores constitui uma vitória da doutrina Passos no pré-programa de
governo do PS e, no fundo, a vitória da doutrina da desvalorização interna
comungada pela Europa e pelo actual governo. Se isto não é uma vitória do
pensamento do actual governo inscrita no cenário futuro de governação PS, não
sabemos o que é uma vitória do pensamento de direita.
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