Luís Reis, Jornal
Económico, 26 de Abril de 2016
Em visita recente a uma praça financeira europeia
fui surpreendido com a forma elogiosa com que um gestor de fundos português se
referia a António Costa. Dizia ele algo do género «O homem é um malabarista
maravilhoso».
«Tem sempre 8 ou nove bolas no ar e quando uma
parece mesmo que está a cair, com um movimento in extremis essa
bola é apanhada e o espectáculo segue em frente!». Esta foi, sem tirar nem pôr,
a melhor descrição do nosso primeiro-ministro que ouvi até hoje – não posso, na
verdade, conter um sorriso ao pensar em tantas bolas no ar simultaneamente, com
rostos ou símbolos os mais diversos: Catarina, Jerónimo, TAP, feriados,
Centeno, Comissão Europeia, Juncker, Marcelo, UGT, CGTP, agências de notação,
IVA, IRC, todas no ar, todas às voltas e todas habilmente manipuladas (leia-se,
para que não subsistam dúvidas – passadas de mão em mão) por um malabarista,
quase-ilusionista António Costa, numa cabal demonstração do retorno do
investimento feito no programa televisivo onde aprendeu e aperfeiçoou a arte em
questão, apropriadamente chamado «Quadratura do Círculo».
Surpreendentemente e de forma inopinada, ou talvez
não, enquanto lhe vão atirando mais algumas bolas para as mãos (25 dias de
férias, 35 horas semanais, banifs, licenças de maternidade de 12 meses, rankings que
colocam Portugal nos lugares cimeiros da descompetividade fiscal), António
Costa começa a deixar cair bolas ao chão. Entram bofetadas, saem generais, há
secretários de Estado em pé de guerra com ministros e ministros em pé de guerra
com generais, há Draghi a pedir reformas e Jerónimo a garantir que reformas
nunca mais e a confusão parece instalada.
Como se isso não bastasse, vem uma inesperada e
desnecessária confissão freudiana pública e ateniense – «Quando for grande
quero ser como a Grécia»! Por mais voltas que dê não consigo perceber os
motivos que levaram o nosso primeiro-ministro a assinar ao lado de Alexis
Tsipras («diz-me com quem andas»…) um manifesto que nos coloca do lado errado
da problemática situação Europeia – justamente o lado do problema, da
desconfiança, do incumprimento, dos resgates e dos haircuts –
nem que benefícios daí advêm para o nosso país. A esse propósito, o Financial
Times escreveu que «the leftwing duo of António Costa and Alexis
Tsipras, both elected on anti-austerity platforms, lambast austerity, and
attribute a diverse array of social issues to it», numa colagem tão
embaraçosa para Portugal quanto a premência da necessidade de ouvir as devidas
explicações para esse lamentável momento por parte do seu protagonista
português.
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