sexta-feira, 29 de abril de 2016


O malabarista


Luís ReisJornal Económico, 26 de Abril de 2016

Em visita recente a uma praça financeira europeia fui surpreendido com a forma elogiosa com que um gestor de fundos português se referia a António Costa. Dizia ele algo do género «O homem é um malabarista maravilhoso».

«Tem sempre 8 ou nove bolas no ar e quando uma parece mesmo que está a cair, com um movimento in extremis essa bola é apanhada e o espectáculo segue em frente!». Esta foi, sem tirar nem pôr, a melhor descrição do nosso primeiro-ministro que ouvi até hoje – não posso, na verdade, conter um sorriso ao pensar em tantas bolas no ar simultaneamente, com rostos ou símbolos os mais diversos: Catarina, Jerónimo, TAP, feriados, Centeno, Comissão Europeia, Juncker, Marcelo, UGT, CGTP, agências de notação, IVA, IRC, todas no ar, todas às voltas e todas habilmente manipuladas (leia-se, para que não subsistam dúvidas – passadas de mão em mão) por um malabarista, quase-ilusionista António Costa, numa cabal demonstração do retorno do investimento feito no programa televisivo onde aprendeu e aperfeiçoou a arte em questão, apropriadamente chamado «Quadratura do Círculo».

Surpreendentemente e de forma inopinada, ou talvez não, enquanto lhe vão atirando mais algumas bolas para as mãos (25 dias de férias, 35 horas semanais, banifs, licenças de maternidade de 12 meses, rankings que colocam Portugal nos lugares cimeiros da descompetividade fiscal), António Costa começa a deixar cair bolas ao chão. Entram bofetadas, saem generais, há secretários de Estado em pé de guerra com ministros e ministros em pé de guerra com generais, há Draghi a pedir reformas e Jerónimo a garantir que reformas nunca mais e a confusão parece instalada.

Como se isso não bastasse, vem uma inesperada e desnecessária confissão freudiana pública e ateniense – «Quando for grande quero ser como a Grécia»! Por mais voltas que dê não consigo perceber os motivos que levaram o nosso primeiro-ministro a assinar ao lado de Alexis Tsipras («diz-me com quem andas»…) um manifesto que nos coloca do lado errado da problemática situação Europeia – justamente o lado do problema, da desconfiança, do incumprimento, dos resgates e dos haircuts – nem que benefícios daí advêm para o nosso país. A esse propósito, o Financial Times escreveu que «the leftwing duo of António Costa and Alexis Tsipras, both elected on anti-austerity platforms, lambast austerity, and attribute a diverse array of social issues to it», numa colagem tão embaraçosa para Portugal quanto a premência da necessidade de ouvir as devidas explicações para esse lamentável momento por parte do seu protagonista português.

Deixar cair uma bola a meio de um malabarismo difícil até se compreende. Mas atirar uma de propósito à cara de quem é o nosso único porto de abrigo nestes tempos turbulentos (a Europa) parece um acto de desafio e irresponsabilidade que só pode servir para dar razão às vozes que começam a querer associar a António Costa o cognome de o Arrogante. Antes Malabarista, digo eu…





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