quinta-feira, 14 de julho de 2016


A nova parábola dos talentos


Laurinda Alves, Observador, 12 de Julho de 2016

Mesmo os cépticos militantes e os cínicos mais incorrigíveis sabem que nestes momentos há uma matemática infalível: a da confiança que gera sempre mais confiança. Foi essa a lição de Fernando Santos.

E agora, que já todos conseguimos dormir umas horas seguidas, e os 23 rapazes mais o seu Mister também já voltaram a pousar a cabeça nas suas almofadas, depois de tocarem o céu e atravessarem oceanos de multidões dentro e fora dos estádios, agora sim, estamos em condições de retomar certas rotinas com mais alegria e confiança.

A vitória da Selecção não resolve nenhum dos nossos problemas, é certo, mas ajuda-nos a viver. Nem sabemos exactamente de que forma nos ajuda a enfrentar a vida, só sabemos que esta grande vitória nos resgata para o dia-a-dia tantas vezes previsível e chato. Faz-nos mais leves e torna-nos mais unidos, mesmo que a união seja efémera, e ao fim do dia cada um vá para seu lado. Acredito que hoje todos voltamos a ser quem éramos, excepto na alegria. E numa certa leveza.

Falo do alívio que resulta de não termos perdido perante adversários tão arrogantes e territoriais como os franceses. É impossível ser insensível à absurda presunção de superioridade de comentadores obliterados pelos nervos das vésperas da grande final. O alívio também nasce da certeza de que a vida nem sempre é justa e raras vezes evolui numa lógica de merecimento. Merecíamos ganhar, mas podia não ter acontecido. A bola podia não ter batido na trave. Mais, podíamos ter quebrado quando Payet tentou e conseguiu derrubar Ronaldo. Podíamos ter ficado derrotados logo ali, podíamos ter-nos revoltado, redobrado a agressividade ou, até, termos ficado para sempre desorganizados. Aquilo que aparentemente nos fragilizaria, foi o que nos tornou mais fortes.

Sei, e sabemos todos, de equipas inteiras que não teriam sobrevivido a uma baixa tão colossal como a saída do Cristiano Ronaldo, a pouco mais de vinte minutos de jogo. O alívio que gera leveza, emoções transbordantes e certezas crescentes é este mesmo, de sabermos tudo o que nos podia ter acontecido por sucessivos cúmulos de azar, mas felizmente não aconteceu. Tudo graças a uma incrível união que gerou uma incrível força. E, claro, porque felizmente o Éder estava lá e tinha a crença de que faria o golo. E tal como disse Pepe, «man of the match», na sua entrevista final: «Deus só dá grandes batalhas aos grandes soldados».

A Taça é nossa e foi inteiramente merecida. Desejada e sonhada, foi ganha com lucidez e garra, esforço e sacrifício, inteligência e humildade. Nunca será demais sublinhar a humildade inteligente dos jogadores e do Selecionador, aliás. A mim enche-me de orgulho esta atitude de uns e outros, pois detestaria torcer por uma selecção que não soubesse estar à altura dos acontecimentos. Custa sempre ver uma falta grave não assinalada, especialmente quando arruma com um grande jogador prévia e oficialmente proclamado como «alvo a abater». Mas custar-me-ia ainda mais se os nossos jogadores tivessem optado por retaliar, se tivessem desatado a jogar numa lógica «olho-por-olho» ou tivessem perdido a cabeça, pois na verdade perderam o seu maior general na batalha mais decisiva da campanha.

Gosto de gente de coração inteligente. Nunca ninguém nos pediu nem pedirá para sermos bons e parvos, muito pelo contrário! Do outro lado do campo havia jogadores apostados em derrubar a qualquer preço, mas deste lado todos se aguentaram nos embates e todos tiveram tamanho para os adversários. Dá gosto perceber a estatura moral dos homens, quando são postos à prova. E Ronaldo foi atingido no joelho mas não na alma. Assim como Éder, o novo herói galáctico, também não se deixou vencer por comentários daninhos e alcunhas feias. Ou Fernando Santos não perdeu o nervo nem deixou de defender cada um dos seus jogadores do primeiro ao último dia. E por aí adiante, porque cada jogador deu realmente o seu melhor e foi isso que festejamos torrencialmente na noite de domingo, foi isso que continuamos a celebrar massivamente durante todo o dia de ontem e é isso que mantém o nosso coração em festa hoje.

Fernando Santos impressiona pela fortaleza de carácter e pela convicção de aço. Lúcido e discernido, manteve a palavra até ao fim. Livre, muito livre na sua fé, não desperdiçou nem um segundo a disparar argumentos ou tácticas contra trincheiras inimigas. Fez o seu silêncio interior diário de reflexão, oração e comunhão para poder focar no seu círculo (ou perímetro, como tanto gostam de dizer os comentadores desportivos), mantendo-se firme na aposta de multiplicar os talentos dos homens que escolheu. Assim como o fiel jardineiro dobra os joelhos sobre a terra para a cuidar e adubar, também Fernando Santos cultivou pacientemente nos seus rapazes a confiança, a coesão e a união.

Presumo que mesmo os cépticos militantes e os cínicos mais incorrigíveis sabem que nestes momentos há uma matemática infalível: a da confiança que gera sempre mais confiança. Foi essa a lição de Fernando Santos, o homem que sabe que o fundamental não é cada homem acreditar em Deus, mas cair na conta de que Deus acredita em cada homem. Santos esforçou-se por traduzir esta verdade bíblica à letra e conseguiu. Não fingiu ser Deus, mas agiu à maneira de Deus: acreditou profunda e radicalmente em cada um dos seus eleitos. E transformou o tempo do Europeu num tempo de oportunidades. Sem queixas nem lamentos, sem acusações nem censuras, juntou as pedras que outros foram atirando e colocou-as longe do caminho.

O tempo do Europeu não era apenas um tempo de competição e rivalidades. Fernando Santos sabia isso e agiu em conformidade. Tratava-se de trabalhar muitas outras coisas ao mesmo tempo na equipa, mas também nos portugueses: projectar confiança, trabalhar a competência, conter os excessos da agressividade, combater o negativismo, elevar o moral de uma nação inteira, reforçar a união e… fazer a força. Na terminologia cristã, tão cara a Fernando Santos, este tempo serviu para juntar pedras e fazê-las desaparecer, pois foram lançadas pedras suficientes e este era, para ele, o tempo de nos aproximarmos, de criarmos união e proximidade.

Numa era de excessos e provocações, num mundo de «irracionalismo, relativismo pós-modernista e fundamentalismo religioso», para usar as palavras de Bento XVI, na célebre conferência de Regensburg, não é fácil ser cristão e começar um discurso final, transmitido à escala planetária, por agradecer a Deus. Fernando Santos começou e acabou a falar de um Deus que lhe pede para pôr os seus talentos a render ao serviço dos outros, mas também para multiplicar os talentos dos que estão à sua volta. E deu a entender que é a centralidade de Deus na sua vida que gera nele a urgência de fazer mais e melhor. A sua missão foi conduzir a Selecção (e todos os portugueses!) à vitória, mas não se esgota aqui. Fernando Santos trouxe muito mais que uma Taça para casa. Encheu-nos de certezas sobre as nossas capacidades, fez-nos transbordar de emoção e orgulho, mas também nos deixa agora a responsabilidade individual de não deixarmos que outros nos derrubem. Ou pior, que nos tornem duros como pedras por frustrações, desavenças, desilusões mútuas ou ofensas não perdoadas.

O rastilho da alegria que explodiu no domingo e mantém o País em festa desde o fabuloso petardo de Éder, não se pode apagar. Cabe a cada um de nós tentar manter a chama acesa, pois graças a esta vitória milhões de portugueses espalhados pelo mundo acordam e adormecem mais felizes e, acima de tudo, mais confiantes nas suas capacidades. E muitos milhares de emigrantes chegam aos seus empregos mais orgulhosos da sua identidade.

No final da campanha, podemos dizer deste Fernando o que o seu homónimo poeta escreveu na Mensagem:

     Cheio de Deus, não temo o que virá,
     Pois, venha o que vier, nunca será
     Maior do que a minha alma





quarta-feira, 13 de julho de 2016


Jornalista espanhol arrasa

ao defender a selecção das críticas


Javier Martin, jornalista do diário desportivo espanhol As, saiu em defesa da Selecção Nacional, depois das muitas críticas a que a equipa das quinas foi sujeita ao longo deste Europeu. Na sua crónica intitulada de «O normal é que ganhe Portugal», o jornalista espanhol começa por definir os pontos a favor.

«Portugal tem tudo a favor: joga em casa do adversário, com um público contra, um árbitro contra (já o vimos na semifinal) e o ex-chefe da casa de apostas, Platini contra».

Depois realçou os pontos contra, com muitas farpas à prestação francesa neste Europeu.

«Tem também contra toda a crítica desportiva europeia, que vê no futebol da França a quintessência, embora a Roménia os tenha assustado, tal como a Albânia e a Alemanha bailou diante deles, antes e depois de uma grande penalidade suspeita».

De seguida Martin arrasou a crítica francesa e espanhola que se atiraram a Portugal. Em relação aos franceses, Martin recorda Thierry Henry e Jerôme Rothen, que praticamente disseram que os gauleses já venceram. Já os espanhóis, o jornalista ataca-os defendendo que estes mudam de opinião demasiado depressa.

«A crítica francesa está com nojo de Portugal porque, dizem, é aborrecido, certamente arrebatados com o jogo francês nos meinhos nos treinos; Rothen, um medíocre, fala mal de Portugal e o exemplo de desportivismo, Henry – o mão da vergonha –  também subestima Portugal; e o que dizer da crítica espanhola? A Croácia tornou-se a melhor selecção quando venceu a Espanha, mas três dias depois defraudou as expectativas. É que Portugal tinha-os vencido. Transmutação semelhante aconteceu com o País de Gales, da excelência à vulgaridade, segundo os críticos, depois de passar pelo filtro português».

Martin remata com a seguinte frase:

«Os jogadores portugueses não são os melhores, ainda que alguns de segunda linha brilhem na Liga francesa; nem são mediáticos, mas são bons, alguns muito bons e um extraordinário. Com tal desprezo e o pouco que acompanha a sorte dos campeões, é normal que ganhe Portugal».

Veja mais em: http://www.adeptosdebancada.com/nacional/jornalista-espanhol-arrasa-ao-defender-a-selecao-das-criticas/#sthash.1kc1gQn8.dpuf






Carácter português supera

a fragilidade francesa



Portugal e os Portugueses vistos por um estrangeiro, por ocasião da vitória
de Portugal sobre a França na final do Euro 2016.

(Original em inglês)


. . . . .

(Tradução automática)

Carácter português supera
a fragilidade francesa

Uma equipe tinha a vontade de vencer.
O outro teve apenas je ne sais quoi.

Tunku Varadarajan

CET 7/11/16, 01:04

Actualizada 7/11/16, 14:01 CET

O simplista e superficial será tentado a descartar as finais do Euro 2016 como um final monótono a um torneio monótona e pobre. Eles vão estar faltando uma enorme ponto sobre finais de campeonatos - e cerca de futebol em si.

Portugal derrotou a França por 1-0, e a modéstia do placar obscurece uma infinidade de coisas: drama, fortaleza, pungência, perversidade, resistência e determinação. O que não obscurecer o fato de que esta foi a maior conquista de Portugal como nação desde o dia em que foi admitido na Comunidade Económica Europeia em 1986.

Com todos os pré-match falar deste jogo sendo uma colisão de frente entre as estrelas as duas equipes "- Antoine Griezmann e Cristiano Ronaldo - que era fácil esquecer que o futebol é um jogo de equipa. Um lembrete de que a verdade veio cruelmente aos 25 minutos, quando Ronaldo estava maca para fora do campo.Portugal, você teria pensado, era agora uma equipa órfão. O que seria dos homens deixados no campo, sem o seu jogador da estrela, sua cintilante talismã?

Ronaldo tinha sido ferido no 8º minuto depois de um robusto, mas não extravagante, resolver por Dimitri Payet. Seu joelho dobraram e ele caiu no relvado, provocando uma luta grotesca de vaias dos torcedores franceses. Ele saiu a coxear do campo para o tratamento, então mancou de volta novamente, apenas para diminuir para o relvado mais uma vez. Os fãs franceses repetiu sua erupção de vaias - cacophonic e implacável, uma forma hedionda para tratar um homem ferido; mas o cavalheirismo não é a força de multidões franceses, que poderia aprender uma coisa ou duas a partir de alguns dos fãs que estiveram em seu meio de mais nações desportivas.

Era um paradoxo, mas Portugal cresceu em força com a saída de Ronaldo; e a França, que parecia invencível até aquele momento, parecia ter o ar sugado para fora dela. Era como se a partida de seu maior inimigo tinha deixado sem pistas sobre quem o adversário era agora.

Portugal malha-se em cota de malha; e como o francês disparou suas flechas, eles não conseguiram furar a defesa Português. O heróico Rui Patrício, na baliza, era como um personagem de Os Lusíadas.


O futebol era raramente muito, exceto quando Éder marcou magicamente no minuto 110; e não foi sempre edificante. Em momentos como este, especialmente nos finais de grandes torneios, é melhor não pensar do jogo puramente como o futebol. Pense nisso, em vez disso, como um drama humano mais amplo, um teste de caráter, e de todas as habilidades e artes de sobrevivência e de penetração.

Então eu não acho que de Pepe - Doughty, vilão, desconexo, Pepe histriônica - apenas como um jogador de futebol empacotamento backline de Portugal. Eu o vi como um soldado, um sobrevivente, um repulsor de hordas que avançavam. Eu não acho que de Nani - insatisfatórios, muitas vezes decepcionante Nani - como a frente mais provável para marcar um golo para Portugal; Eu pensava nele como o batedor que forayed profundamente em território inimigo em busca de fendas e caminhos.

O francês entrou em campo, deve-se dizer, com um certo suporte, intitulada, e sentia-se, a meio do jogo, que eles estavam indo para uma punição. Eles desperdiçaram oportunidades em abundância, e Didier Deschamps vai lamentar sua má gestão de Paul Pogba e sua desconfiança de Anthony Martial. Ele também vai lamentar, eu suspeito, a ausência de Karim Benzema, excluído do elenco por razões morais blousy. França perdeu a agitação da Big Benz; França perdeu a sua vanguarda.

O Português, por sua vez, jogou fiel ao tipo nacional e histórico. Deles é uma terra que sempre usou seus escassos recursos com sabedoria, astuciosamente, esticando-os ao máximo grau. Como poderia um pedaço de terra no extremo ocidental da Europa continental construir para si um império de tal magnitude. Há uma dourness de determinação, uma fortaleza defensiva, uma obstinação incansável ao Português que lhes serviu bem no império e os serviu no campo de futebol na noite de domingo.

Este, lembre-se, foi a última potência européia para produzir a independência às suas colónias africanas. Houve uma obstinação para a sua longevidade colonial, assim como houve uma obstinação de seu futebol na noite passada. A bela francesa, com suas habilidades e emoções e seus pavão-jogadores, não poderia quebrar o espírito do Português. A equipe francesa não tem a determinação para uma sucata prolongado. Seu desejo de "ganhar muito" era muito sufocante.

A final será lembrado mais longo em Portugal, onde ele será lembrado por uma eternidade. O resto de nós faria bem para admirar os vencedores para a sua vontade de vencer. Afinal, isso é o que cada equipe veio fazer no Euro 2016.

Será que gosto de cada equipa a jogar futebol a forma como esta equipa Português faz? Certamente não. Mas não gostaríamos cada equipe querer ganhar tão mal como Ronaldo e seu bando de homens fizeram? Eu acho que o que fazemos.Certamente que fazemos.

Reportagem adicional de Satya Varadarajan.

Tunku Varadarajan, contribuindo editor da  POLITICO , está escrevendo a coluna Linesman na Euro 2016.





terça-feira, 5 de julho de 2016


Catarina Martins e os temas fracturantes


Francisco Ferreira da Silva, Diário Económico, 30 de Junho de 2016

A esquerda mais radical e o Bloco de Esquerda em particular têm estado a patrocinar o debate e, sempre que possível, a aprovar legislação sobre matérias que dividem a sociedade.

A adopção de crianças por casais homossexuais, as barrigas de aluguer, mudança de sexo a partir dos 16 anos, casas de banho unissexo, eutanásia, mudança de designação do Cartão de Cidadão, fim do «offshore» da Madeira e, mais recentemente, a intenção de convocar um referendo sobre a permanência de Portugal na União Europeia, todos foram temas para a líder do Bloco de Esquerda produzir declarações carregadas de dramatismo.

O diploma legal das chamadas «barrigas de aluguer», aprovado por uma maioria parlamentar que incluiu deputados do PSD, mas com os votos contra do PCP, foi objecto do primeiro veto do novo Presidente da República. Marcelo fundamentou o veto em pareceres do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, que chamam a atenção para o facto de a criança ser ignorada. O Parlamento tem agora de refinar o diploma e fazer com que a técnica apenas possa ser utilizada por casais com problemas de infertilidade grave.

A eutanásia é outro tema fracturante que o Bloco de Esquerda pretende legalizar. Ainda em fase de preparação, a questão da morte assistida coloca uma série de questões, éticas e legais, que têm adiado o avanço do tema que, além do Bloco de Esquerda, também conta com declarações de apoio de cerca de três dezenas de deputados do PS e com o PCP a valorizar o assunto mas a dizer que não é prioritário.

O Bloco de Esquerda e Catarina Martins também enveredaram por outros temas, como a exigência para que se mude a designação do Cartão de Cidadão para Cartão de Cidadania, para evitar a discriminação. Assunto que depois, pelo ridículo, parece ter caído no esquecimento. A líder do Bloco veio igualmente dar voz à exigência de que a mudança de sexo possa passar a ser possível a partir dos 16 anos.

Sempre em tom dramático, a líder incontestada do Bloco de Esquerda, eleita com 83% dos votos dos delegados à última convenção nacional daquele partido, que decorreu no último fim-de-semana, corre o risco de, a breve trecho, ficar sem mais temas fracturantes para lançar. Curiosamente, há um sobre o qual nunca se ouviu falar: a eugenia.

A eugenia é uma teoria altamente polémica, do ponto de vista ético e moral, que defende a possibilidade de melhoramento da espécie humana, do ponto de vista físico e mental, através de métodos de selecção artificial e de controlo reprodutivo que, entre outras coisas, podem prevenir e combater doenças de cariz hereditário transmitidas geneticamente. 

Melhor do que querer usar a tecnologia para vencer a natureza – como é o caso das pessoas com doenças agora incuráveis que pretendem ser congeladas para mais tarde, com o avanço da ciência, poderem vir a ser revitalizadas e curadas –, talvez seja preferível respeitar essa mesma natureza.

Um bom exemplo de como os homens podem errar foi dado por Jerôme Lejeune, pediatra e geneticista, e o biólogo Jacques Monod durante um debate televisivo. Lejeune perguntou: «Um pai sifilítico e uma mãe tuberculosa tiveram quatro filhos: o primeiro foi cego de nascença, o segundo morreu após o parto, o terceiro nasceu surdo-mudo e o quarto tuberculoso. A mãe ficou grávida de um quinto filho, o que faria o senhor?». Jacques Monod não pestanejou e respondeu: «Eu teria interrompido essa gestação», ao que Lejeune respondeu de imediato, «Então o senhor teria acabado de matar Beethoven».

Com que intenção pretende Catarina Martins introduzir, a cada momento, temas fracturantes da sociedade? O último foi, há poucos dias, o do referendo à permanência na União Europeia. A proposta já levou Rui Tavares a escrever no Público que «não há pior para os referendos do que os políticos ambiciosos. Quando anunciam referendos não tencionam convocá-los, quando os convocam não os querem ganhar e quando os ganham não sabem o que fazer». Dirigida a Catarina Martins, a ideia também pode aplicar-se aos líderes da campanha do «leave» no Reino Unido que, agora, não sabem o que fazer.

Também Ricardo Araújo Pereira, no programa Governo Sombra, se referiu a Catarina Martins para afirmar que, se seguir à risca o preceito contra a discriminação que é o Cartão de Cidadão, dirá um dia: «Portugueses e portuguesas, estamos aqui reunidos e reunidas porque estamos todos e todas preocupados e preocupadas com a questão dos desempregados e desempregadas», e concluiu que «ninguém leva a sério uma pessoa que fale assim». É caso para dizer: oxalá assim seja, porque não há nada mais irritante do que o tom dramático que a líder do Bloco de Esquerda utiliza para os mais diferentes temas, sejam eles fracturantes, ou não.





quinta-feira, 23 de junho de 2016


Sopas e descanso

para o professor Adriano Moreira


Adriano Moreira (1922 - )

João José Horta Nobre, História Maximus, 13 de Abril de 2016 

«É por isso que a questão do convívio pacífico, respeitoso, e cooperante das religiões institucionalizadas é uma exigência mundial para a paz nos nossos atribulados dias: um Conselho das Igrejas institucionalizadas, na ONU, ao lado do Conselho de Segurança, não deve ser adiado, ou o globalismo verá acentuar o seu carácter actual de anarquia mundial.»

O professor Adriano Moreira ou não sabe o que é o Islão, ou então faz de conta que não sabe. Uma pessoa que em pleno século XXI ainda acredita seriamente na possibilidade «do convívio pacífico, respeitoso e cooperante» do credo de Mafoma com as restantes religiões institucionalizadas, ou é uma pessoa extremamente ingénua, ou é ignorante ou então está ao serviço do lobby politicamente correcto e por isso escreve este tipo de coisas para ficar bonito.

Ignorante é que eu sei que o professor Adriano Moreira não é. Restam por isso duas hipóteses: a ingenuidade ou o politicamente correcto. Talvez seja uma mistura de ambas que o levam a escrever o que escreveu. Seja o que for, só me apetece mesmo é dizer-lhe: «ganhe juízo!»

«Convívio pacífico, respeitoso e cooperante» do Islão com as restantes religiões institucionalizadas? Are you serious??? Alguém minimamente bem informado acredita mesmo nesta utopia espiritual?!? Talvez seja mais fácil fazer com que o céu nos caia em cima da cabeça, do que alcançar um «convívio pacífico, respeitoso e cooperante» com o Mundo Islâmico.

Sopas e descanso para o professor Adriano Moreira, disso é que ele precisa, disso e de sonhar menos...




quarta-feira, 15 de junho de 2016


Pré-match


Alberto Gonçalves, Diário de Notícias, 12 de Junho de 2016

1. Os portugueses são os melhores, decretou o presidente Marcelo. No progresso económico? No avanço científico? Nas artes? Na indústria automóvel? Na gestão de bancos públicos? Em receitas de bacalhau, vá lá? Nada disso, que um chefe de Estado não perde tempo com ninharias: no futebol, no fundo aquilo que importa. Vem aí o Europeu da modalidade e há que «mobilizar» os cidadãos para um desígnio a que só os vende-pátrias serão alheios. Em Belém, o PR aproveitou ainda para informar a selecção de que já é campeã «à partida», uma adenda pertinente se tivermos em conta que à chegada as coisas não costumam correr bem.

2. Em vez de receber a selecção, o primeiro-ministro visitou-a. Como é hábito, levou consigo tropecções na língua e ameaças à Europa, especialmente à França, sobre a qual exigiu «vingança». Como é hábito, a Europa tremeu. À saída da Cidade do futebol (?), o dr. Costa confessou-se «menos angustiado» com a situação clínica de Ronaldo. Por mim, confesso-me angustiadíssimo com a situação clínica das pessoas que desprezam momentos assim históricos, preferindo consumir-se com o «resgate» da CGD ou similar assalto, perdão, auxílio ao contribuinte.

3. A fim de conquistar Paris, a selecção apetrechou-se com um hino. Para garantir o sucesso, trata-se de uma cantiga «adaptada» do sr. Abrunhosa, que objectivamente descreve a sua criação: «Tem um efeito colectivo inebriante e quase mágico.» Com versos do calibre de «Tudo o que nos dás, nós damos-te a ti e somos Portugal!», não admira. O sr. Abrunhosa acrescenta que a cantiga «já é das pessoas, já não é minha», mas não falou em partilhar os direitos autorais. Dado que temos de pagar os salários sem tecto da administração da CGD, cada cêntimo viria a calhar.

4. Pelos vistos, o lema da selecção é «Não somos 11, somos 11 milhões», um recenseamento apressado que despertou a ira do deputado do PS Paulo Pisco (decerto um pseudónimo): «Há cinco milhões de portugueses espalhados pelo mundo que se sentem excluídos.» Enquanto, com um nó no estômago, imaginamos multidões de compatriotas a sofrer os horrores da exclusão em Nova Jérsia e no Luxemburgo, consola um bocadinho ler que o sr. Pisco «já alertou o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, para esta questão, durante uma audição na comissão parlamentar de Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas». E consola imenso saber que nós pagamos o salário do sr. Pisco, aliás bastante inferior ao dos administradores da CGD.

5. Já havia o anúncio da cerveja patrocinadora da selecção da bola, onde três ou quatro moços alucinados gritavam «O futebol somos nós!» como se quisessem assassinar o espectador. Agora há o anúncio do supermercado patrocinador da selecção da bola, com imagens de tribos bárbaras, cuspidores de fogo, explosões, lobos ferozes e um tom geral de ameaça ao «estrangeiro»: «Ouvem rosnar/ Sabem com quem estão a lidar/ Temos mais olhos que barriga/ E esta fome já é antiga.» Para a próxima, outro patrocinador exibirá a selecção da bola a mastigar as entranhas dos adversários. Ou, se quiserem mesmo meter medo, o «buraco» da CGD.

6. Isto foi apenas o início. Seguem-se semanas de autocarros, histéricos, bêbados, sardinhas, o «melhor do mundo», mensagens das vedetas nas redes sociais, berraria, análises de peritos, a contagem do tempo que o treinador demora nos lavabos do avião (56 segundos, afiançou um «jornalista») e, se a selecção vencer, 609 milhões de euros para a economia nacional, um sétimo da nova «injecção» na CGD. Há países malucos de todo. Felizmente, não é o caso do nosso.





segunda-feira, 13 de junho de 2016


D. Pilar: vá à merda!


José Paulo Fafe  (25 de Outubro de 2012)

Não é a primeira nem a segunda vez (e cheira-me que tão-pouco vai ser a última…) que escrevo sobre aquela inenarrável figura que dá pelo nome de Pilar e que exerce, desde há uns anos, como «viúva profissional». Apaparicada e idolatrada por uns idiotas que pensaram que, à conta dela e de uma fundação que ainda ninguém percebeu bem para o que serve a não ser para transplantar oliveiras e sacar uns cobres ao erário público, se promoveriam no nosso pobre «universo cultural», a criatura foi, ao longo dos anos e perante a reverência e o servilismo de quem passou pelo(s) poder(es), ganhando o estatuto de «intocável» que lhe permitiu alardear uma arrogância e uma má-educação digna de alguém lhe espetar um valente par de estalos, ou no mínimo, mandá-la aquela parte.

Agora, como se já não bastassem as cenas acanalhadas que protagonizou ao longo dos tempos, esta energúmena (e estou a ser parco na forma de qualificá-la…), do alto de uma importância que só ela e o bando de imbecis que lhe lambem as botas lhe reconhecem, não arranjou melhor maneira para reagir a uma conta que recebeu da EDP relativa aos custos de consumo de electricidade da fundação de que ela se auto-nomeou presidente vitalícia: «Temos aqui uma fundação de um Nobel da Literatura que não tinha obrigação de abrir ao público e vêm-me com os recibos de electricidade? Não falo essa linguagem». Assim, como se lê… Desconheço se da linguagem da criatura fazem parte expressões como «proxeneta» ou «chulo» e mesmo se esses termos se aplicam no feminino. O que sim sei é que desta não resisto: olhe D. Pilar… vá à merda!







Wolfgang Schäuble: o inimigo dos povos


Numa entrevista ao jornal Die Zeit, o arrogante Schäuble dá a sua visão
sobre a Europa do futuro.

Gabriel Robin

Le nom de Wolfgang Schäuble ne dit probablement pas grand-chose au quidam. Pourtant, cet homme, actuel ministre des Finances d’Angela Merkel, est le vrai dirigeant du continent européen. Il s’exprime régulièrement dans les médias, avec un franc-parler typiquement germanique. Impossible d’accuser l’Allemand de s’abriter derrière le jargon techno-administratif propre aux fonctionnaires européens. Wolfgang Schäuble donne bruyamment ses avis sur tous les sujets importants : le Brexit, la Grèce, les « migrants » … Des avis généralement désastreux, contraires aux intérêts des peuples européens, y compris aux intérêts de son peuple.

Dans un entretien donné au journal Die Zeit, l’arrogant Schäuble donne sa vision de l’Europe du futur. Il y déclare notamment, à propos de la crise migratoire qui secoue le continent : «La fermeture des frontières, le repli sur soi, c’est cela qui nous détruira et nous fera dégénérer dans l’inceste.» Ces propos forment une sorte de rhétorique nazie inversée, voulant que l’Allemagne perde son identité ethnoculturelle première en s’abandonnant à un métissage forcé de grande échelle. Wolfgang Schäuble, fondé de pouvoir du grand patronat allemand, tente par tous les moyens de justifier une immigration massive pour laquelle son peuple, et les autres peuples européens, n’ont jamais été invités à s’exprimer.

Il a même rajouté, au nom de son gouvernement : «Pour nous, les musulmans en Allemagne sont un enrichissement de notre ouverture et de notre diversité », louant au passage le rôle des femmes turques dans la vie économique allemande. Précisons que 37,8 % des femmes d’origine turque seraient sans emploi, soit le taux le plus élevé parmi les populations issues de l’immigration en Allemagne.

Dans ce plaidoyer euro-mondialiste, qui ferait croire que le gouvernement allemand planifie le Grand Remplacement de sa population par d’autres populations venues du sud du monde, on ne trouve guère qu’un seul éclair de lucidité dans les déclarations de Wolfgang Schäuble. En effet, le tyran en puissance admet que «l’Afrique sera notre problème» et déclare que, pendant longtemps,«le Moyen-Orient nous a protégés de l’Afrique». C’est exact. La déstabilisation de la Libye, longtemps zone-tampon, par Nicolas Sarkozy et son visiteur du soir, le « philosophe » Bernard-Henri Lévy, a rendu le problème migratoire encore plus complexe qu’il ne l’était jusqu’alors.

Si l’enjeu démographique est le défi du siècle, il ne faudrait néanmoins pas sous-estimer l’autre enjeu posé par la résurgence de l’islam de combat, que Wolfgang Schäuble semble minorer. En témoigne, d’ailleurs, la soumission des autorités allemandes à la Turquie du sultan Erdoğan, qui pratique un ignoble chantage sur l’Europe.

Dans le même ordre d’idées, Wolfgang Schäuble s’est montré menaçant avec le peuple britannique, coupable de vouloir s’émanciper de la tutelle totalitaire de l’Union européenne berlino-bruxelloise. Cet homme est l’ennemi mortel des peuples européens et ne s’en cache pas. Il montre quels sont les deux défis auxquels nous sommes désormais confrontés : refuser la gouvernance extérieure en réaffirmant notre souveraineté nationale, refuser notre effondrement intérieur en luttant contre l’immigration massive qui détruit notre identité. Vive la France historique ! Vive la France libre!






Cristóvão Colon — Conferência em Coimbra







domingo, 12 de junho de 2016


Mouraria ou Chinatown?


Maria João Marques, Observador, 8 de Junho de 2016

Já estamos em boa hora de começar a ver uma expropriação de propriedade privada como o último recurso de qualquer problema. E de fazermos t-shirts com o slogan «nem mais um metro quadrado para a CML».

Fernando Medina – presidente da Câmara de Lisboa em punição por todos os pecados da capital – é o político socialista exemplar. «Inimigo dos automobilistas e voraz com os recursos dos lisboetas» seria um bom mote para a sua campanha de 2017.

Fernando Medina – presidente da Câmara de Lisboa em punição por todos os pecados da capital – é o político socialista exemplar. «Inimigo dos automobilistas e voraz com os recursos dos lisboetas» seria um bom mote para a sua campanha de 2017.

Já muita gente escreveu sobre a mesquita que a CML entendeu por bem tomar as dores de construir e a hipocrisia flagrante de pretender defender o Estado laico radical, rasgando contratos de associação livremente estabelecidos pelo Estado para poupar as susceptíveis criancinhas à exposição ao ópio do povo por um lado, e, por outro, correr a substituir-se à comunidade islâmica na construção de uma mesquita. E se calhar atrás da mesquita vem a madrassa e a querida câmara socialista de Lisboa é bem capaz de decidir – para mostrar como somos tolerantes, multiculturais e essas virtudes teologais do credo esquerdista – contribuir financeiramente para a catequese muçulmana dos alunos da mesquita da Mouraria. Depois, claro, de ter protegido as crianças portuguesas – mesmo as das famílias ignaras que até queriam e gostavam – da exposição a essa praga maior da vida portuguesa que é o cristianismo.

Para os argumentos sobre laicidade dirijam-se se faz favor aos textos de João Miguel Tavares e Sebastião Bugalho. Eu gostava de acrescentar outro argumento: o Estado devia (como quase sempre) estar quieto. Ao contrário do que dizem os fãs do projecto – e até João Miguel Tavares – não faz qualquer sentido construir naquela zona uma mesquita. Porque há vários séculos aquela zona era habitada por islâmicos devemos agora lá construir uma mesquita? Porque se abriram lá lojas de proprietários paquistaneses e bangladechianos temos de lhes oferecer um local de culto? E a população chinesa da zona, que é pelo menos tão numerosa e visível? Está já em estudo pelos assessores dilectos de Medina a construção de um templo a Confúcio? Outro a Mêncio? Foi encomendada alguma estátua da bodhisattva Guanyin?

E que dizer da injustiçada população hindu que durante muitos anos habitou e trabalhou naquela mesmíssima zona? Nunca dei por nenhum canto – menos ainda construção de três milhões de euros a expensas do contribuinte da praxe – evocativo de Shiva. Ou – para ser visualmente ainda mais apelativo – um altar a Ganesh, o deus elefante. Mas devo estar a ser injusta: provavelmente foi algum temor de Kali, a destruidora, que impediu os socialistas lisboetas, tão amantes do culto alheio, de assim ignorarem os justos anseios religiosos dos muitos hindus que já passaram pela Rua da Palma.

Por várias razões conheço bem a zona de Lisboa onde se pretende construir a mesquita. Uma delas foi ter morado uns anos um bocado mais para cima na encosta e mais para o lado. Recuperei uma casa por lá quando ainda toda a gente me olhava com ar de «já tomaste os comprimidos?» quando lhes dizia que ia morar para o meio da Lisboa antiga – e, então, muito desmazelada.

Foi uma epopeia. Os vizinhos, uns velhotes reformados e outros possivelmente recebedores do RSI e permanentemente desocupados, tinham como entretenimento diário chamarem a polícia municipal para vasculharem as obras que fazia (isto depois de um tempo longo à espera da aprovação do projecto de arquitetura e das especialidades e da emissão da licença de obras). O gabinete técnico claramente via como missão civilizacional dificultar de formas imaginativas a recuperação de um apartamento. Havia que defender uma zona com população envelhecida e habitações degradadas da intromissão de pessoas de vinte anos que lá queriam residir. Que lata (a minha, obviamente).

Entretanto estes cenários persecutórios já se alteraram. O licenciamento ficou mais fácil – e as loucuras dos arquitectos camarários que pretendiam pôr as pessoas a viverem naqueles prédios como se vivia em 1795, a bem da pureza arquitectónica da zona, foram contidas. Eu, às tantas, mudei-me.

Vieram os paquistaneses e os chineses. Depois vieram os turistas e, também, mais gente nova que, como eu, aprecia casas antigas restauradas e as vistas deslumbrantes de Lisboa. Há mais jardins (aqui aplaude-se a CML) e os prédios têm vindo a ser recuperados – por privados. Os problemas de estacionamento continuam por resolver (assim vão ficar, que a prioridade do PS são ciclovias, que ninguém usa, espalhadas pela cidade) e, sobretudo, os prédios propriedade da CML estão sem obras, velhos, estragados.

Conto isto para mostrar que aquela zona é dinâmica – também graças aos imigrantes que lá se instalaram, que dão colorido, movimento e interesse. A população tem tido alterações nos últimos anos e não cabe à CML cristalizar o bairro com uma mesquita como se os muçulmanos que vivem em Lisboa lá fossem sempre ficar.

E se se fizer mesmo questão de fornecer um local para uma mesquita naquela zona? Há soluções muito melhores e mais baratas: é conceder à comunidade islâmica o uso por n anos de um dos prédios decrépitos da CML na zona. Já estamos em boa hora de começar a ver uma expropriação de propriedade privada como o último recurso de qualquer problema. E de fazermos t-shirts com o slogan «nem mais um metro quadrado para a CML».





segunda-feira, 6 de junho de 2016


Não à islamização de Portugal, e da Europa!




Contra a construção de mais uma mesquita em Lisboa 
Para: Ex. Sr. Presidente da Assembleia da República


Ex.mo Sr. Presidente da Assembleia da República:

Os cidadãos abaixo assinados vêm por este meio solicitar à Assembleia da República uma recomendação com vista à revogação imediata da decisão da Câmara Municipal de Lisboa de construir uma nova mesquita na referida cidade (zona do Martim Moniz), tendo em conta os seguintes considerandos:

1.º Sendo Portugal constitucionalmente um estado laico, não se afigura legal que estejam envolvidos dinheiros públicos num projecto que prevê a construção de um complexo que integra um templo religioso. No entender dos signatários, tal situação configura um favorecimento do Islamismo (que, como se sabe, nem sequer é a religião da maioria dos portugueses) em relação às outras religiões.

2.º O referido projecto vai colidir com os tipos de construções existentes na zona, contribuindo para a descaracterização da cidade, já muito ferida por erros anteriores.

3.º A construção do dito templo estará manifestamente a contribuir para o alarme social, tendo em conta a situação de expansionismo do extremismo islâmico que se vive no Médio Oriente e Norte de África e que ameaça Portugal, a partir do momento em que se sabe que existem radicais muçulmanos que defendem a integração da Península Ibérica num grande califado islâmico (cf., p. ex., http://observador.pt/2014/08/12/um-califado-seculo-xxi/) e que já está documentada a presença em Lisboa de muçulmanos que apoiam a entidade terrorista que dá pelo nome de Estado Islâmico (cf., p. ex., programa televisivo «Sexta às 9», de 26 de Setembro de 2014, http://www.rtp.pt/noticias/index.php?article=769655&tm=8&layout=122&visual=61).










O animal spirits e a vaca voadora


Pedro Sousa Carvallho, Público, 2 de Junho de 2016

Uma economia que dependa excessivamente da dinâmica do consumo privado está condenada a definhar.

Quando chegou, António Costa prometeu um tempo novo. «Um tempo novo que traga crescimento e prosperidade, um tempo novo para as famílias e um tempo novo também para as empresas.» Esta semana começaram a chegar as primeiras estatísticas do INE sobre o «tempo novo» e não é que esse «tempo novo» é muito parecido com o tempo antigo?

As estatísticas do INE mostram a economia a desacelerar nos primeiros três meses do ano, com o PIB a crescer 0,9%, o que constitui um abrandamento face aos 1,3% registados no quarto trimestre de 2015. O que explica esta travagem? Portugal está a perder investimento a um ritmo expressivo. Este indicador, que no quarto trimestre de 2015 tinha registado uma variação homóloga de 4,4%, apresentou agora uma queda de 0,6%. Nos últimos 30 meses, o investimento aumentou sempre.

Sem investimento não há economia que aguente. Carlos Costa, governador do Banco de Portugal, costuma comparar a economia a um avião com quatro motores: as exportações, o consumo público, o investimento e o consumo privado. As exportações, ainda segundo o INE, abrandaram no arranque do ano para 2,8%, quando há um ano as vendas para o exterior cresciam 7,1%. O consumo público há muito estagnou e o investimento está a desaparecer. O consumo privado, graças à reposição de rendimentos, é o único que vai aguentando o avião no ar. É fácil perceber que com tantos problemas nos motores este avião não há-de suster-se muito tempo no ar.

Claro que há muitos que não percebem esta analogia dos aviões. Por isso falemos de vacas voadoras. Uma vaca voadora tem duas asas para se suster no ar. De um lado a procura externa (exportações – importações) e do outro lado a procura interna (consumo + investimento). Como as exportações estão a crescer pouco (2,8%) e menos do que as importações (4,6%), a asa direita da vaca voadora começa a tremelicar. E como a quebra do investimento, com o tempo, vai provocando uma erosão no consumo, a asa do lado esquerdo já começa a tremer. E quem acredita que existem vacas voadoras também tem de acreditar que há vacas que caem do céu.

Uma economia que dependa excessivamente ou quase exclusivamente da dinâmica do consumo privado está condenada a definhar com o passar do tempo. O consumo privado só estimula a economia no curto prazo e, quando não é acompanhado de investimento (que gera emprego e rendimento), rapidamente descamba em mais endividamento, no aumento das importações (que vai desequilibrar mais a balança comercial) e numa reduzida taxa de poupança que retira capacidade às famílias para ajudar a financiar as empresas (o que vai aumentar o défice externo). A taxa de poupança em Portugal ronda hoje os 4%, contra uma média de 12,4% na zona euro.

Com estes números, a previsão do Governo para um crescimento da economia de 1,8% já começa a parecer desajustada. É o próprio Mário Centeno que esta semana veio dizer que a concretização desse valor «está dependente da retoma do investimento». Já se percebeu que será uma questão de semanas até termos um orçamento rectificativo.

O Banco de Portugal também está a antecipar uma travagem a fundo do investimento este ano, cuja previsão passou de 4,1% para 0,7%. A OCDE é ainda mais pessimista, já que em Novembro previa que o investimento em Portugal crescesse 3% em 2016 e esta semana veio dizer que antecipa uma quebra de 1,5%. Os números do Governo apontam para um crescimento de 4,9%.

E por que razão é que os investidores deixaram de querer investir em Portugal? Quer os neoclássicos, quer a teoria keynesiana fazem depender o nível de investimento do produto marginal do capital e da taxa de juro. John Maynard Keynes, no seu livro Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, acrescenta um outro factor que influencia e de que maneira as decisões de investir dos empresários – o chamado «animal spirits», ou seja, um impulso psicológico que está para além da análise quantitativa dos juros e da rentabilidade do capital que faz com que um empresário decida não investir num determinado momento. Essa decisão faz travar o emprego e a procura, conduzindo a um ciclo de recessão. Ao contrário dos neoclássicos que acreditavam na auto-regulação dos mercados, os keynesianos defendem a intervenção do Estado na economia, através do aumento dos gastos públicos, para inverter o ciclo.

Este «animal spirits» («estados de ânimo») não tem nada que ver com vacas voadoras. É Keynes a introduzir na equação do investimento uma componente emocional ou de impulso que pode determinar ciclos económicos e gerar incertezas na evolução da economia. Por isso é que o economista e ex-governador do Banco de Portugal Jacinto Nunes descrevia a economia de Keynes como «a economia da incerteza».

É a incerteza que afasta o investimento. Ainda esta semana a OCDE veio dizer que «o investimento caiu de forma brusca e continua a ser um entrave para o crescimento, devido ao elevado endividamento das empresas, aos balanços frágeis dos bancos, à incerteza nas políticas e ao menor ímpeto na execução de reformas». Em relação aos dois primeiros pontos, os problemas não são de agora e são de difícil resolução – apesar de os bancos continuarem a dizer que têm dinheiro para emprestar aos bons projectos.

Já quanto à incerteza nas políticas e ao menor ímpeto nas reformas depende de o Governo desfazer essa imagem que tanto assusta os empresários e prejudica a economia. A OCDE não deixa de criticar, por exemplo, a suspensão da descida do IRC que «poderia dar um empurrão ao investimento e ao crescimento», uma suspensão à revelia de um acordo alargado feito no passado recente entre PS, PSD e CDS. António Costa veio esta semana, perante uma plateia de empresários, pedir-lhes o seu envolvimento para a construção de «uma imagem e uma percepção de um país moderno, de um país de confiança. Só com confiança se conseguirá atrair mais investimento». Mas a confiança não se decreta. Constrói-se.






Pedro Barroso confessa

não conseguir ser «gay»

e penitencia-se...


O CERCO 
    Venho aqui pedir desculpa
    de não ser evoluído,
    apesar destas campanhas
    na rádio, na televisão,
    em toda a parte, insistindo
    na urgência do assunto…
    Eu não consigo gostar;
    – não consigo mesmo, pronto.
    Sei que pertence ser gay,
    toda a gente deve ser.
    Mas eu, lamentavelmente
    não sou como toda a gente;
    Como aconteceu... não sei,
    peço desculpa por isso,
    mas confesso: sou… diferente.
    Sei que vos pode ofender
    esta minha enfermidade,
    pois um gajo que assim pensa
    hoje em dia, não tem nexo;
    deveria ser banido,
    expulso da comunidade.
    É uma vergonha indecente
    Gostar de mulher, ter filhos
    Casar, afagar, perder-se
    Com pessoa doutro sexo!
    Uma nojeira repelente;
    Dar-lhe, até, beijos na boca
    em público! E declarar
    Esta sua preferência
    Que eu nem sei classificar!
    Tenho uma vergonha louca
    E desejo penitência
    por tal desconformidade,
    retardamento, machismo,
    doença, fatalidade!
    Já tentei tudo: – inscrevi-me
    em saunas, aulas de dança
    cursos de perfumaria
    origami, greco romana,
    ioga – para ter ousadia
    boxe – p’ra ganhar confiança...
    Mas quando chega o momento
    De optar… sou… decadente,
    Recorrente e insistente.
    Opróbrio raro e demente,
    Ver uma mulher seduz-me,
    Faz-me vibrar, deslumbro.
    Vê-la falar, elegante;
    Vê-la deslizar, sensual
    Como vestal, deslumbrante
    Seu peito assim, saltitante
    Sua graça embriagante
    olho com gosto, caramba,
    lamento ser tão ...normal.
    Mas eu confesso que sinto
    – neste corpo tão cansado
    Que da vida já viu tanto...
    Ainda sinto um desejo
    Que m’ envergonha bastante
    Por ser já tão deslocado
    tão antigo, assim tão fora
    do mais moderno critério.
    Valia mais estar calado
    Mas amigos, já agora
    Assumo completamente:
    – Tenho esse problema sério.
    Nunca integrarei partidos
    Onde não sou desejado.
    No planeta das tais cores
    não tenho dia aprazado,
    nem bandeira, nem veado,
    nem «orgulho» especial!
    Sou mesmo do «outro lado»
    dito «heterossexual»
    e já me chateia um bocado
    Ter que dizer, embaçado,
    que me atrai o feminino
    e sou apenas «normal»!
    – e, portanto, avariado.
    Mas… mesmo assim, – saudosista,
    imensamente atrasado,
    terrivelmente cercado,
    conservador nesse ponto,
    foleiro, desajustado...
    perdoai-me tal pecado
    – Não me sinto ...assim tão mal!