Alberto Gonçalves
"Tozé" Seguro, que me garantem ser o novo chefe do PS, justifica em pleno o cargo e, sem indícios de vergonha, passeia por aí o ar compungido natural do socialismo. Na prática, não se contenta com a desvairada ofensiva fiscal do Governo e exige que se vá um bocadinho além. Há dias, deu-lhe para reivindicar um imposto extra de 3,5% sobre as empresas cujos lucros atinjam os dois milhões de euros anuais. Embora a discussão (sem contraditório) das últimas semanas em volta do saque aos "ricos" nos torne um caso peculiar, a obsessão em castigar aquilo que funciona em benefício da ruína estatal não nasceu ontem nem nasceu aqui. Marx declarou o lucro um valor a abater e, uma ocasião, o saudoso Nehru exigiu ao maior industrial da jovem Índia que não pronunciasse na sua presença essa "palavra suja".
Compreensivelmente, o carácter obsceno da palavra é sobretudo sentido por gente que nunca contribuiu para a sua tradução real. Em décadas de deambulações partidárias, "Tozé" Seguro jamais realizou algo que vagamente se assemelhasse a uma actividade lucrativa. Esta distância face ao trabalho produtivo é vital para que um indivíduo se sinta à vontade com o dinheiro dos outros. Saber o que custa ganhá-lo não é somente um rifão popular: é uma regra indispensável ao respeito que o esforço ou a sorte alheios deveriam suscitar. Por cá, curiosamente, a regra é a inversa e obedece a três axiomas: todos os portugueses que ganhem acima de um motorista governamental, por exemplo, são ricos; todos os ricos são corruptos; nenhum rico paga impostos. Não é necessário divagar acerca das consequências deste interessante quadro conceptual, desde o buraco a que chegámos à arrepiante normalidade que acolhe os delírios de "Tozé" Seguro. E de quem calha: Cavaco Silva apela diariamente a sacrifícios diversos e o Governo tortura mais do que diariamente as empresas e a classe média, perdão, os ricos com impostos enquanto mal belisca a despesa da casa. Perante isto, "Tozé" Seguro acusa o PSD de "assalto violento" às "funções sociais do Estado". O que surpreende não é a probabilidade de entrarmos em colapso: é o facto de ainda não termos entrado.
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