quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Uma polícia do pensamento?

José António Saraiva

Abri o meu email e não queria acreditar: estava positivamente inundado de correspondência enviada por pessoas que eu não conhecia, insultando-me pela crónica Dois Maridos, publicada neste espaço há 15 dias. (...)

Percebi, entretanto, que uma comunidade gay tinha feito circular o texto entre os seus membros, com o pedido expresso de enviarem ao autor um email ofensivo. (...)

Ora qual fora o meu crime, para suscitar tamanho repúdio e ataques tão violentos e grosseiros?
 
Basicamente, manifestar-me contra o casamento gay. (...)

Não percebo por que razão a homossexualidade tende a tornar-se um tema tabu, que não pode ser discutido e sobre o qual não é permitido opinar.

Não percebo – e não aceito.
 
Nunca me verguei às conveniências e ao politicamente correcto – e não seria agora que o começaria a fazer.

Sou totalmente contra o casamento gay, já expliquei detalhadamente porquê e reivindico o direito de ter opinião sobre este assunto e de a expressar.
 
Será que alguns querem instituir uma nova Polícia do Pensamento?

Querem reacender-se as fogueiras da Inquisição?

Hoje, em Portugal, escreve-se sobre tudo: sobre a liberalização de todas as drogas, sobre a eutanásia, sobre as vantagens das centrais nucleares, sobre a legitimidade do aborto, até sobre a reposição da pena de morte – e não se pode contestar o casamento gay?

Porquê? Com base em quê? (...)

Uma reflexão, para finalizar. 
 
Na nossa Civilização, a palavra ‘casamento’ tinha um significado preciso.

Por que se insistiu em estendê-la a outro tipo de relações? Eu digo: por razões ideológicas. Exactamente para significar que as uniões homossexuais são exactamente iguais às uniões heterossexuais.
 
Só que eu acho que não são. Que são diferentes – e portanto não deveriam usar a mesma palavra.
 
Ora, se os gays tiveram o direito de defender o seu ponto de vista, eu não terei o direito de discordar? Ou a lei que legalizou os casamentos gay ilegalizou simultaneamente as opiniões contrárias?

2 comentários:

José Domingos disse...

É um excelente artigo. No politicamente correcto, a coisa só funciona, numa direção, pela que mais agrada. O temas "fracturantes" da "esquerda, estão acima de qualquer critica, eles são os detentores da verdade ( a deles).
De facto, têm o direito á indiferença.

Anónimo disse...

José António Saraiva não percebe qual foi o seu crime para ver o seu email inundado de correspondência enviada pela comunidade gay.
Eu explico: o seu crime é ter-lhe chamado comunidade gay. Tivesse aplicado os vernáculos epítetos que o povo português bem conhece: 'fufas' e 'paneleiros', e já aquela malta saberia com quem estava a lidar