João José Brandão Ferreira
Conclusão
«A guerra é de facto uma coisa má. Mas existe algo ainda pior do que a
guerra: é perdê-la»
Do autor
Portugal sofreu
entre 1954 e 1974 o maior ataque à escala mundial – o que implicou uma
estratégia global de resposta - como já não assistia desde a Guerra da
Restauração (que agora querem apagar da memória colectiva ao proporem o fim do
feriado no 1.º de Dezembro…).
Tal ataque nada teve
a ver com questões de Regime Político ou de situação político-social em
Portugal.
A Nação portuguesa
combateu vitoriosamente em três teatros de operações distintos; a milhares de
km da sua base logística principal, que era a Metrópole, apenas com as suas
forças, sem alianças militares, sem generais ou almirantes importados - o que
já não acontecia desde Alcácer Quibir.
E isto sem alteração
de ordem pública, disrupção das actividades económicas ou sociais, ao passo que
se obtinha um crescimento económico na Metrópole como em nenhuma outra época e
se fez mais no Ultramar do que nos quatro séculos anteriores.
Foi a melhor
campanha que os portugueses fizeram desde os tempos do grande Afonso de
Albuquerque e nós em vez de nos orgulharmos disso, apoucamo-nos!
Só não conseguimos
fazer frente à força bruta da União Indiana, pela desproporção dos meios em
presença e pelo pouco empenhamento dos nossos aliados. Tal configurou uma
agressão militar execrável, que a Moral, o Direito e a convivência entre os
povos condena.
Mas o direito da
força não conferia a força do Direito, que nós alienámos em 1975, quando um
governo português, numa acção que nada justificava, reconheceu «de jure»,
aquela ocupação manu militari. De qualquer modo Portugal conseguiu resistir a
todas as malfeitorias indianas durante cerca de 14 anos. Não foi coisa de
somenos!
Os governos
portugueses que enfrentaram a guerrilha actuaram com uma competência
insuspeita, no âmbito político, diplomático, económico/financeiro/social,
militar e até psicológico, nas frentes de combate. Cometeram, porém, um erro:
esqueceram-se duma outra «frente» e isso foi-nos fatal. Estou a referir-me à
retaguarda, isto é, a Metrópole. E deixou de actuar aqui, sobretudo no âmbito
psicológico o que permitiu a extensão da subversão que chegou a
consubstanciar-se em dezena e meia de acções de sabotagem violenta.
A parte mais
atingida foi, sem dúvida, a Universidade, parte da chamada intelectualidade,
poucas franjas do operariado e alguns sectores da própria Igreja Católica.
Esta acção
subversiva, constante e alargada no tempo, veio a ter sucesso num cada vez
maior conjunto de portugueses que resultaram na expansão de vários mitos que
agrupei em oito:
– A guerra era insustentável e impedia o desenvolvimento do
país;
– Portugal estava
«orgulhosamente só» e posicionava-se contra os «ventos da História»;
– A guerra durava há muito tempo;
– Portugal ia perder a guerra militarmente;
– Portugal estava em
contra ciclo com a História e devia ter descolonizado mais cedo;
– A população dos territórios ultramarinos
queria ser independente;
– A guerra era injusta e actuávamos contra o Direito
Internacional;
– A solução para a
guerra era Política e não Militar.
Estes mitos – e,
sendo mitos, eram falsos, passaram a ser percepcionados como verdadeiros e hoje
são assumidos como verdade oficial e nos compêndios da História.
No meu entendimento tudo isto está errado mas isso seria
outra conferência.
Síntese final
«A primeira lição que a História
e a vida nos ensinou é a da transitoriedade dos mitos, dos regimes e sistemas»
Jaime Cortesão
O modo como a nossa
diáspora ultramarina – que é um dos maiores feitos da Humanidade – acabou, não
nos dignifica e resultou mal para todas as partes. As responsabilidades ainda
estão para ser atribuídas devidamente, o que não tenho a certeza que alguma vez
se fará. A Nação dos portugueses vai ter que viver com isto para todo o sempre.
Há apenas que aprender com os erros e os acertos do passado para melhor
construir o futuro. E o futuro, o nosso futuro, irá seguramente passar pelo
entendimento que conseguirmos com todos os povos e terras que, em tempos,
Portugal já foram.
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