quarta-feira, 5 de outubro de 2016
Os ricos, nossos amigos
Helena Matos, Observador, 2 de Outubro de 2016
Criar ricos é muito mais fácil do que criar riqueza. Basta alterar por decreto o valor do património que faz de cada um de nós um rico. Não duvido que dentro de pouco tempo seremos todos ricos.
Os ricos são muito nossos amigos e muito úteis. Sem os ricos não se pode governar porque são os ricos quem tem o dinheiro que os governos dão aos pobrezinhos, aos remediados, à classe média e também aos ricos seus amigos.
Os ricos têm, no banco, o dinheiro que permite aumentar as pensões de miséria e são donos das casas que devem pagar mais impostos para acabar com a privatização dos transportes e de caminho com as obras no Palácio da Ajuda. Os ricos fazem muita falta. Temos até de construir estufas para produzir mais ricos porque cada vez precisamos mais deles. Afinal sem ricos não há dinheiro e sem dinheiro não há políticas para virar a página da austeridade.
Se cada rico depois de pagar os seus impostos ainda pagar mais dez euros para aumentar as pensões e mais dez para ficarmos com os Mirós e mais dez para termos medicamentos nos hospitais e mais dez para os artistas fazerem cultura e mais dez para que as florestas não morram e mais dez para o direito à habitação e mais dez para que os carros sejam eléctricos e mais dez para que aumente o número de professores sem turma e mais dez para que o que for preciso, libertamo-nos de vez do problema da falta de crescimento da economia. Basta ir buscar dinheiro aos ricos.
Tal como no passado possuir uma vaca afiançava a sobrevivência do agricultor, agora ter um rico guardadinho só para si não no estábulo mas na Autoridade Tributária garante a cada um de nós a manutenção dos direitos atribuídos pelos nossos governos quando pensam em eleições. Os governos que não são nossos amigos pretendiam que o dinheiro viria do investimento e da economia. Mas depois deu-se esta revolução que tudo mudou: se cada um de nós domesticar um rico tem garantida a sua sobrevivência e a libertação da selva dos mercados. Claro que um rico dá para mais do que uma pessoa (desde que o nosso concidadão José Sócrates não entre nesta aritmética!) mas é precisamente para isso que existe o Governo: para repartir com justiça a riqueza de cada rico.
A domesticação dos ricos é por isso o passo mais importante nas nossas vidas desde a domesticação dos animais feita pelos nossos antepassados. Obviamente que tal como no Neolítico os animais resistiam à domesticação também os ricos nem sempre aceitam a mudança. Os mais difíceis de domesticar são mesmo aqueles que se obstinam em dizer que não são ricos, que trabalham e poupam… Enfim, arcaísmos! Importante, importante é saber a cada momento se estamos diante de um muito rico, um rico ou apenas um bocadinho rico. Quem sabe um dia teremos um ricómetro ou seja uma geringonça que no próprio instante determina o nosso grau de riqueza!
Mas seja qual for o grau de riqueza, um rico que em 2016 em Portugal não mostra o que tem, é como uma vaca que no século passado, depois de em vida ter dado leite, se recusasse, depois de morta, a dar a carne para comermos, a pele para a indústria dos curtumes, os chifres para os pentes e cabos de talheres sem esquecer os tendões que também serviam para qualquer coisa que agora não me lembra mas que a dona Maria que regia a primeira e a segunda classes garantia ser muito importante: «na vaca tudo se aproveita» – dizia a dona Maria e nós, aprendizes das primeira letras, repetíamos-lhe a lição com rigores de magarefe.
Felizmente que no novo tempo as criancinha só fazem redacções sobre as vantagens do comércio justo da quinoa e as vacas passaram a seres sencientes, a saber criaturas com os direitos dos humanos mas sem os seus deveres nomeadamente os fiscais o que pode levar a que vários ricos, manhosos como é seu hábito, invoquem sentir-se animais unicamente para não pagarem taxas. A possibilidade de vermos aparecer transgender fiscais desde já deve merecer a atenção do senhor Ralha «vale tudo para cobrar mais impostos» pois não se vê como podendo uma pessoa mudar de sexo unicamente porque lhe apetece não há-de passar de homem para cão quando lhe der fiscalmente na gana.
Mas continuando, a domesticação dos animais é hoje uma recordação de um passado em que aos animais estava reservado um papel submisso. Civilizados como somos agora só bebemos leite de soja – donde não nos podemos esquecer de pedir mais dez euros aos ricos para que os produtores de leite de vaca deixem o leite para os bezerros e também mais dez euros para reconverter os produtores de carne de vaca em produtores de trevos de quatro folhas para alimentar os animais salvos dos matadouros. Mais cedo ou mais tarde teremos de pedir desculpa aos animais por todos os assados, costeletas e guisados s em que os transformámos. Por todas as cargas que carregaram. Por todos os campos que lavraram… E pensar que tanto sofrimento foi inútil! O segredo da riqueza estava ali ao alcance da nossa mão. Bastava ter imaginação. Bastava sonhar. Bastava ousar… Domesticam-se os ricos, dá-se um rico a cada cem pobres (mais uma vez, não esquecer que José Sócrates não pode entrar nestas contas porque elas ainda não contemplam fatinhos em Rodeo Drive) e está resolvido o problema.
Àqueles desmancha-sonhos que se estão a perguntar como resolver o problema da reposição de ricos para continuar a garantir que nunca faltarão contas bancárias onde ir buscar o dinheiro para sustentar esta nova economia, chamo a atenção que a reposição de stocks, ou se quisemos o problemas das prateleiras vazias (de medicamentos ou de ricos é o mesmo) sempre foi uma marca do socialismo e não foi por causa desse por assim dizer somenos que o socialismo deixou de se apresentar como uma alternativa política válida e para mais humanista. De qualquer modo essas angústias só assistem a quem ignora as potencialidades do Diário da República. Afinal é mais fácil criar ricos do que abastecer supermercados na Venezuela, garantir em Portugal material no SNS até ao final deste ano e sobretudo é muito mais fácil criar ricos do que riqueza. Basta alterar por decreto o valor do património que faz de cada um de nós um rico. Não duvido que dentro de pouco tempo seremos ricos a partir dos mil euros no banco.
Portugal acabará com onze milhões de ricos. E naturalmente com António Costa de sorriso estampado no rosto a congratular-se pelo seu sucesso no combate à pobreza.
quarta-feira, 28 de setembro de 2016
As ideias de Trump
Jaime Nogueira Pinto,
Diário de Notícias, 26 de Setembro
de 2016
Ao contrário dos conservadores do establishment que
não se atrevem a pegar nas questões nacionais e a falar aos deplorables,
Trump conseguiu chegar aos homens comuns, em guerra com as elites, que os
abandonaram.
Segunda-feira, 26 de Setembro, pelas 09:00 da noite
(duas da manhã do dia 27, hora de Lisboa), vai dar-se o já chamado «debate do
século»: Hillary Clinton versus Donald Trump. O duelo de 90 minutos vai ser
moderado por Lester Holt, do NBC Nightly News.
Continuidade e ruptura
O centro da campanha eleitoral é a política interna
mas a política externa conta sempre e Hillary procurará levar a conversa para
aí — e daí para a alegada ignorância e inexperiência de Trump e para o facto de
alguns dos mandarins do establishment republicano e conservador da Defesa, dos
Negócios Estrangeiros e da Intelligence o criticarem ao ponto de admitirem
cruzar a linha da lealdade partidária. É o que farão o general Brent Scowcroft,
ex-NSC de George H. Bush, e Richard Armitage. Também Chester Crocker e Eliot
Cohen, sem que tivessem apoiado Clinton, exprimiram já reservas quanto à
capacidade geopolítica de Trump.
A política exterior de Hillary será uma política de
continuidade, na linha do internacionalismo liberal: business as usual em
relação aos seus predecessores — Obama mas também George W. Bush, que, com toda
a família, tem combatido Trump. E os Bush contam na Florida, onde Hillary e
Trump estão empatados.
Mas terá Trump uma política externa além das
invectivas anti-islâmicas e antilatinas? Será Trump apenas um retórico básico,
que ameaça tudo e todos com muros e fronteiras, que combate o livre comércio e
proíbe os muçulmanos de entrarem nos Estados Unidos?
Joshua Mitchell, politólogo de Georgetown, publicou
no Politico Magazine um texto intitulado «Donald Trump does
have ideas — and we’d better pay attention to them».
O regresso da fronteira
Começando por citar Tocqueville — «na América as
ideias são uma espécie de poeira mental» —, Mitchell enumera os programas
políticos reduzidos a slogans das sucessivas administrações: New Deal
(Roosevelt), Containment (Truman), New Frontier (Kennedy) War on Poverty
(Johnson), Silent Majority (Nixon), Star Wars (Reagan). Para Mitchell, Trump
tem de facto ideias, só que são ideias fora ou contra o sistema: contra a
globalização, as «identidades», a political correctness e o consenso
bipartidário em política externa. Mitchell resume assim o ideário de Trump:
1. As fronteiras e a política de imigração têm
importância.
2. Os interesses nacionais devem passar à
frente dos chamados interesses globais.
3. O empreendedorismo e a descentralização são
essenciais.
4. O discurso politicamente correcto é
hipócrita e irrealista e deve ser repudiado.
Depois da vitória na Convenção republicana, Trump
teve um péssimo mês de Agosto, causado pelos seus desmandos retóricos contra
grupos étnicos, americanos e estrangeiros e pelo seu pronto aproveitamento
pelos media.
Hillary ultrapassou-o, assumindo uma liderança
confortável, entre oito e dez pontos, mas a partir da mudança da equipa de
conselheiros e estrategas, do encontro com o presidente Peña Nieto do México e
de uma maior cautela na comunicação, Trump recuperou: não só no confronto
nacional, onde está colado a Hillary, como, e mais importante, em swing
states, como a Florida, o Ohio e a Carolina do Norte.
Porque é que Trump, apesar de Trump ou pour
cause, conta, e porque é que o seu discurso é eficaz? Primeiro porque as
fronteiras contam para a identidade política, para a soberania e para a
segurança e depois porque a desregulação teve efeitos trágicos na economia e na
sociedade americanas, desertificando cidades e regiões industriais. Trump e
Saunders pegaram no tema e até Clinton passou a anunciar medidas punitivas para
os deslocalizadores e a deixar passar um certo cepticismo quanto aos tratados
projectados de comércio livre.
Da imigração
Os Estados Unidos — e o resto das Américas — foram
feitos por imigrantes, pelas dezenas de milhões de emigrantes europeus que ali
aportaram, entre o fim das guerras napoleónicas e a Grande Guerra de 1914-1918.
Michael Cimino, o realizador de The Deer Hunter e de Heaven’s Gate, defendia
essa teoria — os americanos eram os imigrantes, melhor, os filhos dos
imigrantes. Só que uma coisa foi a chegada às terras grandes e vazias do
continente de famílias de europeus cristãos, trabalhadores, cheios de esperança
e de vontade de vencer; outra, é a imigração de hoje, tantas vezes controlada
por máfias criminosas de passadores e explorada por empresários sem escrúpulos
que alimentam o sistema dos ilegais que lhes baixam os custos do trabalho.
O controlo da imigração não é xenofobia é um
direito do Estado e os imigrantes já não são aquilo que talvez nunca tivessem
sido mas que, ainda assim, ainda era passível de idealização: a bela
fraternidade eslava do Deer Hunter, a caçar veados nas frias manhãs da
Pensilvânia, em vésperas de partir para o Vietname.
Trump argumenta que a elite bipartidária
internacionalista – políticos, banqueiros, jornalistas – redireccionou
interesseiramente as lealdades políticas para uma suposta humanidade ou uma
vaga consciência universal em vez do que para ele devia estar no vértice da
lealdade política: a nação próxima e concreta, a humanidade possível.
Heresia económica
Puxando pelos seus galões (para alguns discutíveis)
de empresário de sucesso, Trump sustenta que uma baixa radical dos impostos
trará de volta à América capital emigrado para as periferias baratas ou
aparcado em paraísos fiscais. Grande parte da sua agenda económico-social
contradiz a ortodoxia do GOP, que preza a liberdade de comércio e as virtudes
da globalização. Ao defender uma economia regulada, que proteja as indústrias e
os empregos americanos na América, Trump sabe que está a incorrer em pecado
mortal; sabe também que reincide nas ofensas graves ao mercado livre quando
propõe a subida dos salários, a segurança social e a assistência médica, embora
com privatização parcial.
Tudo isto lhe valeu a desconfiança de grandes
doadores republicanos, como os irmãos Koch. No fim de Agosto, Hillary tinha
reunido 542 milhões de dólares e Trump 402 milhões.
Mas além da questão nacional, o ponto em que Trump
mais se distingue de Hillary é na guerra à correcção política. Nesse sentido,
Trump é muitas vezes o inimigo número um de Trump. Não se pode — sobretudo
quando se tem a inimizade de 80% dos media norte-americanos e de 90% dos
internacionais — desqualificar um juiz americano porque é de origem mexicana;
ou falar em proibir de entrar no país um quarto da humanidade (em que se
incluem alguns dos grandes investidores e aliados dos EUA) só porque é
muçulmana.
Embora a correctíssima Hillary não se tenha inibido
de insultar outros muitos milhões de patrícios seus num círculo de
progressistas chiques de Nova Iorque, chamando «deplorables» e
racistas aos partidários de Trump, há que considerar o
desconto de que beneficia entre os comunicadores, sempre benevolentes para com
estes e outros «pecadilhos» da candidata democrata, como as histórias confusas
dos e-mails do State Department e da Fundação Clinton.
De um modo rude, às vezes brutal, às vezes
errático, Trump pegou na outra realidade política. Os Estados Unidos e a Europa
são orientados intelectualmente por um pensamento único, que soube e sabe
apresentar os seus preconceitos ideológicos como princípios nobres e verdades
universais. A Realpolitik que voltou a regular o mundo é tabu
no Ocidente. Daí a revolta das classes médias e trabalhadoras.
O candidato Trump tem ares e modos de spoiled
child, de filho de pai rico, arrogante, extravagante e solipsista. Hillary
é de outro género – uma mulher fria, determinada e ambiciosa, uma Lady Macbeth
que joga todas as cartas, até a feminista. Qualquer um dos dois tem mais
inimigos do que amigos entre os eleitores.
Que PS vamos ter?
João Marques de Almeida, Observador, 25
de Setembro de 2016
Enquanto o PS não se reformar, e deixar de ser o
partido moldado por Sócrates e por Costa para estar no poder a todo o custo,
será um problema, e não uma solução, para Portugal.
Esta é, para mim, a questão central da política
portuguesa. Bem sei que a Mariana Mortágua excita muita gente, como se viu na
semana que passou (e, especialmente, os meus e as minhas camaradas de escrita
do Observador). Mas, e espero que a Mariana não leve a mal, as suas
intervenções públicas recentes foram irrelevantes. O apelo ao fim do
capitalismo apenas confirmou o que muitos de nós, no Observador,
temos escrito nos últimos meses. O Bloco de Esquerda é um partido marxista. É
natural que uma política do BE defenda o fim do capitalismo. Alguma surpresa?
Não o sabíamos? Ficaria admirado com o contrário. Se um dia a Mariana Mortágua
defender a City e os grandes bancos, isso seria notícia. Admito que o PM se
tenha interrogado se afinal o BE saltou o Muro. Quanto ao resto, nada de novo.
Se o apelo ao fim do capitalismo não constitui
qualquer novidade, o anúncio de um novo imposto imobiliário é irrelevante. Como
bem disseram vários dirigentes socialistas, é ao governo que compete definir a
política fiscal. Se o executivo de Costa não quiser, não haverá novos impostos.
Isso é que conta.
Chegamos assim às questões relevantes: que partido
é o PS hoje? O que quer para o país? Todos sabem o que é o PCP e o que quer. No
outro lado do sistema politico, também se sabe o que o PSD e o CDS pensam e o
que querem para Portugal. Mas sobre o PS, não se sabe. Fez campanha eleitoral
contra o aumento da dívida pública, mas esta não pára de subir desde que Costa
chegou a São Bento. O PS passou quatro anos a atacar a obsessão com o défice do
anterior governo, mas mostra agora a mesma preocupação. Afirmou que a economia
cresceria com o consume interno, mas agora mostra gráficos para dizer que é o
campeão das exportações. O PS continuará a ser um partido europeísta empenhado
no respeito pelas regras do Euro? Ou será um partido aliado do Syriza nas
pretensões de mudar as regras da zona Euro? Não é possível estar com todos
durante muito tempo. Mais tarde ou mais cedo, estas contradições terão custos
políticos elevados, para o PS e para Portugal.
Mas os problemas do e com o PS não começaram com a
geringonça. Convém não culpar a aliança com o BE e com o PCP por tudo o que de
negativo existe com os socialistas. O PS começou a mudar com os consulados de
José Sócrates. A identidade ideológica tornou-se secundária, senão mesmo
irrelevante, e o partido tornou-se essencialmente uma força de poder. Sócrates
não é um político de direita, nem de esquerda; é um homem de poder. A sua
popularidade no PS resulta mais do seu lado tribal do que de uma dimensão
ideológica socialista ou social-democrata, que nunca teve e jamais terá. E,
como mostraram os últimos dias, depois de Costa, Sócrates ainda é a segunda
figura com mais poder no PS.
Costa continuou o projecto socrático. O seu PS é
acima de tudo uma força política de poder. A formação da geringonça não
resultou de uma viragem para a esquerda, mas da necessidade absoluta de
regressar ao poder, custasse o que custasse. Entre 1995 e 2011 (16 anos), o PS
só esteve fora do governo durante dois anos. O partido de 2011 não tem nada a
ver com o partido de 1995. Ninguém sabe o que aconteceria ao PS se estivesse
oito anos seguidos fora do poder. Mas foi claro em Outubro passado que essa
hipótese aterrorizou os socialistas e resolveram fazer a única coisa que
poderia ser feita para voltarem ao governo. Não foi apenas Costa que quis ser PM,
o partido quis ser governo com a mesma vontade desesperada do seu líder. Se um
dia Passos Coelho deixar de ser líder do PSD, se o PS for o maior partido e a
nova liderança do PSD estiver disponível, Costa fará um bloco central com a
mesma naturalidade com que se aliou ao PCP e ao BE. A geringonça é uma aliança
de poder, não é uma coligação ideológica.
Se aparentemente o PS parece estar a aproximar-se
do esquerdismo do BE, na verdade o Bloco é que está a caminho de se tornar num
partido de poder, deixando de ser apenas uma força de protesto. O embrulho tem
tons ideológicos, mas a substância é o poder. O discurso ideológico do BE
apenas esconde a sua transformação em partido de poder. E não haja dúvidas.
Estarão dispostos a aceitar qualquer exigência de Bruxelas em relação ao
Orçamento para continuarem no poder. A Mariana foi pedir ao PS para se
transformar, mas no fim o PS é que mudará a Mariana, como ela bem sabe. Eles
ainda não saltaram o Muro mas Costa é capaz de acabar por ter razão. Um dia vão mesmo saltar.
segunda-feira, 26 de setembro de 2016
A bloquização do PS
André Azevedo Alves, Observador, 24 de Setembro de 2016
O PS está a atirar para o caixote do lixo o seu legado na construção do actual regime democrático, feita contra a mesma extrema-esquerda revolucionária de que passou a depender para se manter no poder
À medida que a realidade diverge cada vez mais das previsões e promessas do PS e que o descarrilamento das contas públicas face aos objectivos traçados para o défice e para a dívida se torna cada vez mais evidente, não surpreende que a discussão sobre o agravamento de impostos esteja na ordem do dia. É verdade que esse agravamento de impostos viola também o que o PS prometeu aos eleitores mas desde o início de funções do actual governo se percebeu que a inversão das políticas anteriores e a distribuição de benefícios pelos grupos e interesses favoritos da «geringonça» implicaria o agravamento da factura apresentada aos contribuintes. Nada de novo ou particularmente surpreendente nesta frente, portanto.
Aquilo em que a exibição de Mariana Mortágua numa conferência promovida pelo PS constituiu novidade foi a forma como a discussão sobre o aumento da carga fiscal que se perspectiva foi colocada. Com retórica mais própria de um assaltante à mão armada do que de um parlamentar numa democracia liberal, a deputada Mortágua não podia ter sido mais clara nas instruções que deu à sua audiência socialista: «a primeira coisa que temos de fazer é perder a vergonha de ir buscar a quem está a acumular dinheiro».
Não é uma declaração irrelevante porque o Bloco de Esquerda já não é apenas um partido de protesto que integra vários movimentos de extrema-esquerda. Não é irrelevante porque com a «geringonça» o BE – tal como o PCP – passou a ser um partido com influência directa sobre a governação do país. Não é irrelevante porque a retórica inflamada e revolucionária de Mariana Mortágua foi aplaudida pela audiência presente na conferência organizada pelo PS e porque a liderança desse mesmo PS não se demarcou de imediato dessas declarações (ainda que, honra lhes seja feita, ainda resistem algumas vozes dentro do PS que o fizeram).
Mas Mariana Mortágua foi ainda mais longe: proclamou bem alto a necessidade de uma alternativa ao capitalismo e explicou que a causa da pobreza é a existência dos «ricos». Queixou-se de que as suas declarações foram distorcidas uma vez que taxar riqueza acumulada não seria a mesma coisa que taxar poupança. Em sentido estrito, trata-se de uma afirmação verdadeira: se a riqueza acumulada em causa for resultado de um crime – por exemplo, de um assalto a um banco – não estamos perante poupança. Mas, no contexto das actividades económicas lícitas, a acumulação de riqueza dá-se precisamente por via da poupança.
O ataque de Mariana Mortágua contra a poupança esconde por isso um outro julgamento: o de que a generalidade da actividade económica no contexto dum sistema capitalista é intrinsecamente ilegítima. Só isso justifica a condenação generalizada da acumulação da riqueza. Juntem-se as declarações de Mortágua à afirmação por parte de Catarina Martins de que comprar casa não é investimento e aos planos para dar acesso ao fisco aos dados de quem tenha contas bancárias que superem os 50 mil euros e ficamos com uma ideia mais clara das intenções e objectivos da «geringonça» neste domínio.
Sinalizar que se pretende, em última instância, expropriar por via fiscal as poupanças acumuladas pelas famílias (sejam sob a forma de depósitos bancários, casas ou outras) não é apenas economicamente irracional e financeiramente suicidário para o Estado português na situação actual. É também sintomático do movimento de radicalização da esquerda que a «geringonça» colocou em marcha. Já não se trata «apenas» de uma questão de maximizar o saque fiscal no contexto de uma economia de mercado com pesada intervenção do Estado. Com a «geringonça» a discussão está gradualmente a mover-se para campos progressivamente mais radicais: trata-se agora de colocar na ordem do dia da governação as ambições revolucionárias de longa data da extrema-esquerda.
Em 2009, o socialista João Galamba ainda se demarcava claramente das ideias, propostas e métodos da extrema-esquerda: «É uma fantasia achar que se resolve o problema da pobreza e das desigualdades criando um escalão de 45% de IRS e um imposto sobre as grandes fortunas. Os nossos problemas também não se resolvem nacionalizando a banca, os seguros e o sector energético — e muitos menos se resolvem introduzindo mecanismos de controlo administrativo e burocrático dos juros. Em tudo o que cheire a economia a solução do BE é sempre a mesma: estatismo e penalização da iniciativa privada.»
Em 2016, o primeiro-ministro António Costa já não tem qualquer pudor – Mariana Mortágua certamente terá aplaudido a falta de vergonha – em descrever o seu modelo de sociedade usando deliberadamente terminologia marxista e o PS parece estar num processo de bloquização acelerada. Pelo caminho, o PS atira para o caixote do lixo o seu próprio legado na construção do actual regime democrático contra a mesma extrema-esquerda revolucionária de que passou a depender para se manter no poder. Um caminho que pode arrastar Portugal para um desfecho bem mais grave do que um segundo resgate.
https://www.youtube.com/watch?v=kNUB3yp3Gfk
sábado, 24 de setembro de 2016
Costa usa definição de comunismo
para descrever a sua sociedade ideal
António Costa definiu no debate quinzenal no
Parlamento um modelo de «sociedade decente» que é o mesmo definido por Karl
Marx como sendo o do estádio supremo do comunismo. Quase palavra por palavra.
José Manuel Fernandes, Observador, 23
de Setembro de 2016
Foi na resposta à última pergunta de Assunção
Cristas durante o debate quinzenal desta quinta-feira. A certa altura António
Costa quis definir o que, para ele, era uma «sociedade decente». E fê-lo nos
seguintes termos: «é uma sociedade onde cada um contribui para o bem comum
de acordo com as suas capacidades, e cada um recebe de acordo com as suas
necessidades».
A frase, contudo, não é original: é de Karl Marx e
foi escrita em 1875 num dos seus panfletos mais influentes, a Crítica
ao Programa de Gotha. Aí ele também define a sociedade que deseja: «De
cada qual, segundo sua capacidade; a cada qual, segundo suas necessidades».
Pormenor importante: a sociedade a que Marx se
referia não era a sociedade socialista, mas sim a utópica sociedade comunista.
Vale a pena ler (e comparar) não apenas aqueles
dois extractos, mas as frases inteiras, começando por António Costa, 22 de
Setembro de 2016:
Entender que é absolutamente essencial trabalhar, é
essencial investir, que é importante poupar, que é boa uma sociedade de
iniciativa, mas também quero uma sociedade que seja decente e uma sociedade
decente é uma sociedade onde cada um contribui para o bem comum de acordo com
as suas capacidades, e cada um recebe de acordo com as suas necessidades. E que
a prosperidade gerada por todos possa ser justamente partilhada por todos. Foi
esta sociedade que eu aprendi na minha casa a acreditar».
E agora Karl Marx, no Crítica ao Programa
de Gotha, 1875:
Quando, com o desenvolvimento dos indivíduos em
todos os seus aspectos, crescerem também as forças produtivas e jorrarem em
caudais os mananciais da riqueza colectiva, só então será possível ultrapassar-se
totalmente o estreito horizonte do direito burguês e a sociedade poderá
inscrever em suas bandeiras: De cada qual, segundo sua capacidade; a cada qual,
segundo suas necessidades.»
Este texto do autor do Manifesto do Partido
Comunista e de O Capital tem um significado especial
pois o Programa de Gotha a que se refere é o programa que seria aprovado no
congresso que daria origem ao Partido Social-Democrata alemão. Marx
considerava, na sua crítica violenta aos socialistas alemães, que esse programa
não correspondia a uma plataforma revolucionária, antes a um compromisso
reformista baseado no «revisionismo» dos fundamentos essenciais do marxismo.
Mais: para Marx era necessário, para chegar ao socialismo e ao comunismo,
passar por uma fase que designou como «ditadura do proletariado», conceito que,
de resto, desenvolve nessa sua obra.
Vivíamos uma época em que o movimento socialista se
começava a dividir: de um lado, os revolucionários que seguiriam a linha mais
ortodoxa defendida por Marx na sua crítica à plataforma dos social-democratas
alemães; do outro lado, os socialistas reformistas que preconizavam mudanças
graduais, favoráveis aos trabalhadores, no quadro de regimes democráticos. Os
primeiros dariam origem aos partidos comunistas, os segundos aos partidos
socialistas e social-democratas que seriam centrais nas reformas que levariam
aos modernos Estados Providência.
Para Marx, na sua Crítica ao Programa de
Gotha, uma sociedade que funcionasse de acordo com o princípio «de cada
qual, segundo sua capacidade; a cada qual, segundo suas necessidades»
corresponderia ao estádio supremo do comunismo, tendo mais tarde Lenine, o
fundador da União Soviética, popularizado essa definição. Fê-lo, nomeadamente,
numa das suas obras mais conhecidas, O Estado e a Revolução, onde
cita aquela passagem do livro de Marx antes de explicar que, para chegar a essa
sociedade ideal, era necessário passar por várias fases, nomeadamente a
«expropriação dos capitalistas» e o controlo pelo Estado de todas as forças
produtivas.
Já o socialismo, mesmo sendo visto como uma fase de
transição para o comunismo, caracterizar-se-ia antes por ser aquela sociedade
onde cada um receberia de acordo com a sua contribuição. A concretização desse
princípio não supunha – o que mereceu a crítica de Marx – a superação daquilo
que designava como a «ordem burguesa».
Refira-se ainda que a intervenção de António Costa
surgiu depois de Assunção Cristas lhe ter pedido para se diferenciar dos que,
na esquerda radical, acham que «para acabar com a pobreza é preciso acabar com
a riqueza».
segunda-feira, 19 de setembro de 2016
VOLTA, LULA!
O actor Marcelo Madureira publicou
o que segue sobre o Lula.
Não deixem de ler e compartilhar!!
Muita gente está pedindo: Volta, Lula!(?)
Volta, Lula! e traga de volta as duas refinarias que você doou à Bolívia!
Volta, Lula! e traga de volta os 1,2 mil milhões de dólares que você «emprestou» a Hugo Chávez!
Volta, Lula! e traga de volta os mil milhões de dólares que você mandou para Cuba, Haiti e outros, porque aqui também há crianças morrendo de anemia;
Volta, Lula! e traga de volta os 10,6 bilhões de reais que você emprestou para o Eike Batista (seu testa de ferro) e que agora está em situação pré-falimentar!
Volta, Lula! e traga de volta os 25 milhões de euros que você levou com a Rose para Portugal;
Volta, Lula, e explica o Mensalão, que você planeou e que tinha o «Quartel General» ao lado da sua sala...
Volta, Lula, e explica o fenómeno «Rose»;
Volta, Lula, e explica os 6 000 médicos cubanos;
Volta, Lula, e explica a falência do SUS;
Volta, Lula e explica onde foi parar a reabilitação da indústria naval brasileira;
Volta, Lula e explica os 4,8 mil milhões gastos na transposição do Rio São Francisco e que hoje está tudo abandonado...
Volta, Lula, e explica os 0,20 centavos mais caros do planeta;
Volta, Lula e explica os 39 ministérios;
Volta, Lula, e explica a falência da Petrobras;
Volta, Lula e explica os 20% de inadimplência do programa eleitoral «minha casa minha vida», que os brasileiros que trabalham terão que pagar. Observe também que a taxa de inadimplência de 16% gerou a crise imobiliária de 2007 dos Estados Unidos.
Volta, Lula e explica o que aconteceu com o óleo de mamona que ia ser a independência energética do Brasil;
Volta, Lula, e explica, o PRE-SAL;
Volta, Lula, e explica essa sua criação, o poste «DILMA» que você plantou em Brasilia...
Volta Lula e explica porque o ministro do supremo Roberto Barroso passou a semana passada tentando explicar o contrato milionário que o governo por meio da Eletronorte, concedeu recentemente sem licitação, a seu escritório de advocacia do Rio de Janeiro.
Milhões de brasileiros estão decepcionados: O Lula está mudo!
Todos sabem que, se o Lula se explicar, o PT e os aliados serão trancafiados!
Volta logo e vá pra cadeia também!!!!!!
Peço maciça divultação!
Começou a rodada de pizza. Tenha coragem e encaminhe esta mensagem para cada contato seu. Não podemos deixar essa situação acontecer e enfraquecer o Juiz Sergio Moro. Vamos provar para os ladrões que o povo brasileiro está do lado do Sr Dr Sergio Moro e não vamos aceitar e presenciar mais está pizza e ficar calados. Seja patriota e proteste enviando esta mensagem para conhecimento de todos. Vamos reagir povo. Por favor, vamos dar uma resposta para esses ladrões. Vamos salvar nossas futuras gerações. Repassem... 🇧🇷🇧🇷🇧🇷
Não fique chateado se essa mensagem chegar a você mais de uma vez... Isso significa que está surtindo efeito....
Vamos compartilhar!!!
Quanto mais melhor!!!!!
As perseguições mafiosas
ao juiz Carlos Alexandre
António José Vilela e Fernando
Esteves, Sábado, 26 de Março de 2015
O juiz de instrução Carlos
Alexandre não tem tido uma vida fácil. Nos últimos 10 anos, já o ameaçaram,
invadiram-lhe a casa, tentaram atropelar-lhe a mulher e agora envenenaram-lhe o
cão.
O animal de nome Bart, que lhe
tinha sido oferecido pelo procurador João de Melo, morreu envenenado com
remédio dos ratos. Durante semanas, o
cão agonizou e acabou por morrer na semana passada. Suspeita-se que alguém
tenha atirado para o quintal da casa do juiz um alimento misturado com veneno
para ratos.
Estes casos já não são estranhos para o magistrado
judicial que há mais de 10 anos lida com os processos mais complexos
relacionados com criminalidade violenta e económico financeira. Quando
estava colocado na Polícia Judiciária Militar, Carlos Alexandre chegou a ser ameaçado
e temeu até ser agredido dentro das instalações daquela força policial que
dependia hierarquicamente do ministro da Defesa Nacional. Na altura, Paulo
Portas era o titular do cargo e o juiz tinha ordenado que o seu chefe de
gabinete fosse colocado sob escuta por causa de um alegado negócio de compra de
material militar.
Mais tarde, já colocado no Tribunal Central de
Instrução Criminal, invadiram-lhe a residência e deixaram-lhe
uma velha pistola à vista que estava guardada numa gaveta. O juiz achou
que se tratava de um aviso. Apesar de ter segurança 24 horas por dia, outros
dois acontecimentos viriam a deixá-lo bastante preocupado, sobretudo porque em
causa esteve a mulher Felisbela, que terá sido objecto de duas tentativas de
atropelamento quando passava numa passadeira para peões.
PETIÇÃO
Rogério de Moura enviou-lhe a
seguinte Petição.
Caros Amigos,
Acabei de ler e assinar
a petição: «APOIO AO JUIZ CARLOS ALEXANDRE » no endereço http://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=PT82973
Pessoalmente concordo com
esta petição e cumpro com o dever de a fazer chegar ao maior número de pessoas,
que certamente saberão avaliar da sua pertinência e actualidade.
Agradeço que subscrevam a
petição e que ajudem na sua divulgação através de um email para os vossos
contactos.
Obrigado.
Rogério de Moura
Esta mensagem foi-lhe
enviada por Rogério de Moura (rdemoura007@gmail.com), através do serviço http://peticaopublica.com em relação à
Petição http://peticaopublica.com/?pi=PT82973
Carlos Alexandre incomoda
A folha de serviço
Eduardo Dâmaso, Sábado, 15
de Setembro de 2016
O juiz Carlos Alexandre já foi
alvo de denúncias anónimas sobre contactos com jornalistas que nunca teve. Foi
obrigado a um striptease salarial e a relatar a
inspectores judiciais todos os rendimentos da família. Foi vasculhado por causa
de um empréstimo de 4 mil euros num programa de TV dirigido por Sandra
Felgueiras, filha da famosa arguida Fátima Felgueiras, que fez outro programa
onde explorava alegadas «coincidências» entre as decisões do juiz e as notícias
de um jornalista.
Foi «aconselhado», por superiores,
a suavizar decisões sobre o crime de branqueamento em processos relacionados
com Angola. Viu processos de obras em casa espiolhados e decisões suas
achincalhadas por desembargadores da Relação de Lisboa que passaram mais de uma
década em comissões de serviço nomeados pelos amigos políticos, com base em
opiniões e não em argumentação jurídica. Viu os filhos ameaçados com pistolas
deixadas em cima das respectivas fotografias.
O «caso» Carlos Alexandre
Elogio dos vermes
José Mendonça da Cruz, Corta-Fitas, 14 de Setembro de 2016
O juiz Carlos Alexandre deu uma entrevista em que
explicou quem era, e tudo o que disse de si está solidamente comprovado pela
sua vida, a sua carreira, e o testemunho de quem o conhece ou com ele
trabalhou. Mas o juiz Carlos Alexandre cometeu um erro grosseiro de avaliação:
avaliou mal o país e o tempo em que vive, incomensuravelmente mais rascas do
que julga ou desejaria. Compreende-se, pois, que logo lhe tenham caído em cima
os barões do país pardo e da corrupção, obviamente acolhidos e aclamados na
comunicação social avençada, e inevitavelmente acompanhados
daqueles idiotas úteis que seguem qualquer carroça de pruridos
politicamente correctos, na ilusão de mostrar equilíbrio e equidistância.
O juiz Carlos Alexandre avaliou mal.
Declarou-se católico praticante, e disse que a fé o
estrutura e fortalece. Ofendeu o credo «laico» da redutora acepção
socialista, menosprezou jacobinos e maçons.
Contou com alegria que tem uma família sólida e
tradicional, com a qual se sente feliz. Desconsiderou, pois, as virtudes
fracturantes.
Revelou serenamente que trabalha muito, ganha
pouco, e vive uma vida de austeridade e contenção. Mostrou-se, portanto,
displicente com uma governação que virou a página da austeridade, que
defende a redução do horário de expediente para os trabalhadores (desde que do
sector público), e celebra o fausto, (desde que reservado a quem
tem políticas para as pessoas). E, pior, desprezou as nobres carreiras daqueles
defensores da coisa pública que, à força do seu dinâmico optimismo, saltaram do
Clio para o Mercedes S, do apartamento para o palacete e a casa de férias, da
mediania para o enriquecimento sem causa ou explicação, do anonimato para a
gloriosa inutilidade de algum observatório ou fundação.
O juiz Carlos Alexandre apresentou-se, em resumo,
(e a sua vida e carreira, repete-se, parecem confirmar que é assim) como um
homem sério e bom, incorruptível, estranho ao deslumbramento
das mordomias, do dinheiro a rodos, dos pied à terre em
Paris. Mais grave ainda: o juiz pareceu manifestar uma inabalável fé na Justiça,
mesmo naqueles casos a que o programa do PS chama perseguição a políticos
(seus).
Eis, pois, em pormenor e por extenso, o mais álacre
manifesto contra o tempo novo português.
Que juiz deve servir, então, se Carlos Alexandre,
que vai tão ao arrepio do miasma, não serve?
sábado, 17 de setembro de 2016
segunda-feira, 8 de agosto de 2016
Os amorais
João Gonçalves, Jornal de Notícias, 8 de Agosto de 2016
Costa move-se sempre no
limiar do delito político. Começou por derrubar Seguro depois de este ter dado
duas vitórias ao partido. A seguir, recuperou algum pessoal do «socratismo»,
desprezando ostensivamente Sócrates, quando percebeu que a «teoria do poucochinho»
se ia virar contra si. O poucochinho das legislativas levou-o a arranjar
comparsas que lhe dessem o que faltava. Começou, aliás, a tratar disso mal leu
o destino na opinião pública. Arranjou uma maioria parlamentar, esquadrinhada
em três ou quatro papeletas bilaterais, que lhe permitiu um Governo
minoritário, um programa, um Orçamento falacioso e outras bizarrias que vão
saindo no «Diário da República». Os
comparsas do Bloco e do PC não se preocupam excessivamente com detalhes. O que
ainda há menos de um ano seria alvo de intensa berraria e «luta», agora faz-se
de conta que não existe. Para estes beneméritos, não há aumento directo ou
encapotado de impostos, não há caciquismo PS e não existem reclamações acerca
do estado geral da nação. A ausência da «direita» do poder basta a estas almas
hipócritas como consolo. A tolerância destes novos beatos, sobretudo os
invertebrados e laicos do Bloco, para com o Governo de Costa também se nota em
coisas como as que envolveram o ministério do dr. Brandão e três secretários de
Estado por causa da bola e de uma empresa privada. Do primeiro, veio a «fonte»
que induziu este jornal a um título, desmentido adequadamente na edição
seguinte, sobre um juiz que alegadamente seria «interessado» numa sentença
desfavorável ao ministério. Este episódio induzido deu azo a um artigo
repelente do «Público» que mais parecia um relatório pidesco sobre a vida
privada do juiz. O assunto, não encerrado, dos secretários de Estado seria
simplesmente grotesco e irrelevante, se as reacções oficiais não tivessem sido
o absurdo que foram, revelando uma falta de escrúpulos pela inteligência do
comum dos cidadãos. Não existem «usos e costumes» que desculpem atitudes,
activas ou passivas, que anulam qualquer tipo de autoridade política ou administrativa
e que desprestigiam o Estado. Tudo e todos somados, parece estarmos entregues a
amorais simples, ou seja, a políticos que ignoram o imperativo categórico da
interiorização, da vinculação absoluta e da espontaneidade dos
deveres éticos. É o Portugal contemporâneo de que Oliveira Martins narrou, como
ninguém, o «exemplo singular de desordem moral», das «podridões do egoísmo» e
dos «defeitos próprios de aventureiros».
segunda-feira, 25 de julho de 2016
Cantão suíço de Ticino
Burqa proibida e sujeita a pesada multa
O parlamento do Cantão de Ticino, na Suíça, aprovou
uma lei que pune as mulheres que usem burqa ou niqab com multas que variam
entre os 92 e os nove mil euros.
A decisão foi tomada depois de um referendo ter provado que a proibição de cobrir a cara em espaços públicos é defendida por dois em cada três eleitores.
A lei, que entra em vigor nas próximas semanas, aplica-se também a turistas, pelo que a informação vai ser difundida em estações rodoviárias e ferroviárias e em aeroportos.
Desta forma – inspirada na lei francesa – pretende-se promover a integração social naquela região da Suíça, onde 2% dos 350 mil emigrantes é muçulmano.
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