domingo, 11 de abril de 2010

Os protestos de Valença e a falta de senso

Quando escrevo faz três dias que ondeiam ao vento na cidade portuguesa de Valença, centenas (?!) de bandeiras espanholas.

Tal facto inédito e indecoroso, acontece em protesto por o governo português ter encerrado as urgências nocturnas, nos serviços de saúde daquela localidade e em agradecimento ao facto do autarca da galega cidade de Tuy, logo ter disponibilizado os seus serviços para atender os portugueses que necessitassem.

Cumpre explicar porque classificamos o que está a acontecer de “indecoroso”.

Independentemente da justiça dos protestos – e tem que se avaliar caso a caso a razoabilidade dos mesmos – e da legitimidade e legalidade do que se entende fazer – outros elementos a ter em conta, desfraldar bandeiras espanholas,nas circunstancias em que o fizeram (diria, em qualquer circunstância), é insensato, perigoso e uma bandalhice, que desacredita e desfeia quem o promoveu e quem aderiu.

Há mil e uma maneira de fazer protestos, e não consta que falte imaginação aos portugueses, agora hastear bandeiras adentro de uma fortaleza que há 900 anos defende o respectivo povoado dos ataques de quem durante todo esse tempo se tem mostrado inimigo ou antagonista, é um acto de quem perdeu o norte, está falho de referências e esqueceu valores. Fica mal. E os fins nem sempre justificam os meios. Acaso imaginam que acto semelhante pudesse ocorrer do lado de lá?

Que agradecimentos merece o alcaide galego além de um muito obrigado? Ele fez mais do que a sua obrigação? Não lhe sabe bem que lhe fiquem devedores e que os euros em vez de se gastarem do nosso lado, transitem para o lado dele? Haverá de facto alguma filantropia?

Caros compatriotas de Valença: andaram mal, e tão cedo não se limpam desta ignomínia!
A maneira mansa e abúlica com que os poderes públicos reagiram ao sucedido é sinal inequívoco de como vivemos numa paz podre e decrépita. A comunicação social acompanha a onda, quando não faz circo no que havia por ter sido tido, como coisa séria e reveladora de que o país está doente. Muito doente. Uma coisa destas, há 30 anos, não acontecia, pela simples razão, de que não passaria pela cabeça de ninguém, sequer, pôr a hipótese de que tal pudesse acontecer!...

Sem embargo, os poderes públicos e as políticas postas em execução são as principais causas do estado, a quase todos os títulos lastimável, a que chegámos. A ignorância histórica, estratégica, geopolítica, etc., demonstrada pela classe política é aterradora. A inoculação de referências erradas é avassaladora.
O resultado está à vista de todos e todos os dias.

As causas próximas destes protestos têm sido o sucessivo abandono do interior do país ao Deus dará. Concentrou-se a vida dos 90 000 Km2 que nos restam, numa faixa de 50 Km junto à costa que vai de Braga a Setúbal. Mais a sazonabilidade turística da faixa algarvia (os arquipélagos são outra questão). O interior está deserto pela migração, pela quebra demográfica, pelo estertor da agricultura, pela devastação dos incêndios e pela ausência de indústria. Até os quartéis do Exército fecharam quase todos…

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