Brandão Ferreira
«Uma Força Aérea sem munições é
apenas um aero – clube muito dispendioso».
«É preciso decidir se
queremos ter FFAA ou não!»
Da gíria aeronáutica
Estas são duas
frases recorrentes, que se ouvem nos últimos 35 anos! Já não há pachorra.
Ultimamente houve
mais umas quantas personalidades gradas, que voltaram a por a questão.
Não há pachorra,
pois as frases – passem a irresponsabilidade que encerram – querem dizer tudo e
não querem dizer nada e não significam grande coisa a não ser um quase encolher
de ombros resignado ou um «passar de bola», que não lhe pertence.
São frases perigosas
e não surtem efeito algum.
São ainda, em rigor,
uma mentira.
E são uma mentira
pois o poder político, com a Nação supostamente representada na AR, aprovou uma
Constituição onde está definida a missão – em senso lato – das FAs e o seu
posicionamento na esfera do Estado.
Depois, por haver
uma Lei de Defesa Nacional e demais Leis que regulamentam o seu funcionamento,
dependências e estrutura; o Conceito Estratégico de Defesa Nacional que
enquadra a sua actuação e o Conceito Estratégico Militar, que define as
missões, a ameaça e o conceito militar de acção, donde decorre o dispositivo e
o sistema de forças.
Finalmente existem
as Leis de Programação Militar que devem providenciar o armamento, equipamento
e munições.
Não falta, pois,
definição e enquadramento legal q. b.; isto é claro como água apesar de estar
sempre a mudar – o que já de si é mau.
O problema não está
aqui, o problema é que tudo isto é uma grande mentira, pois ninguém está
interessado em que alguma coisa funcione, mas sim em reduzir tudo à ínfima
espécie…
Por isso o
diagnóstico está errado: não é necessário definir o que se quer, o que é
urgente é consubstanciar e tornar operacional o que se define…Ora é exactamente
isto que é escamoteado, constantemente, quer seja por políticos, comentadores,
chefes militares, etc.
Estamos, apenas,
perante mais uma variante da história do rei que se passeava nú…
Conhecem algum
Ministro da Defesa ou PM, que não tenha repetido qualquer coisa deste género:
Que têm muito apreço pelas FFAA, que o País precisa de FFAA, mas estas precisam
ser pequenas (?),bem equipadas (?), modernas (?), bem armadas (?),projetáveis
(?), blá, blá, blá. Alguns até acrescentam outros adjectivos de que nem devem
saber o significado.
E o que fizeram até
hoje? Isso mesmo, tornaram-nas mais pequenas, até já terem um tamanho que deixe
de fazer qualquer nexo (mudam os governos mas ficam os 3«R»:reduzir, reduzir,
reduzir). Perceberam?
O que é necessário
entender a seguir são as razões porque tudo se tem passado assim (porque tudo
se tem passado assim!).
As razões são fundas
e não posso explicitá-las todas, mas deixo algumas evidências: o embuste e má
vontade política; o não querer encarar as coisas importantes para o País em
detrimento das trivialidades da luta político-partidária e o império dos
negócios; a ignorância e os preconceitos da maioria da «intelectualidade»,
sobre estes temas; a espantosa despreocupação da opinião pública, sobre os
mesmos e a total incapacidade da elite militar em lidar com todas estas
situações.
Cada uma destas razões
dava resmas de escrita.
Em conclusão,
enquanto não houver uma desgraça qualquer, ou uma qualquer ruptura com o
«statuos quo», não passaremos disto. Porque, em boa verdade ninguém quer passar
disto…
Existe, porventura,
uma maneira económica, correcta, legal, educada, sensata, de se minorar o
estado a que chegámos e, até, simples:
Os chefes militares
(não um, mas todos – e com os restantes generais e almirantes com eles), vão ao
«Comandante Supremo» e entregam-lhe um estudo de estado-maior, com várias
opções, do que é possível fazer (missões a cumprir), com os meios disponíveis
(informações, financeiros, pessoal, infraestruturas, armamento, equipamento,
munições, etc.), com as respectivas vantagens, inconvenientes e consequências.
De seguida o Governo
teria que assumir o que deseja manter e cortar e ir ao Parlamento assumir as
decisões perante a população. Aliás, já há muito tempo que isto se devia ter
feito.
Só os chefes
militares podem provocar isto, pois não parece haver coragem nem interesse, em
nenhuma força política - ou outra – em tocar no assunto.
Mais ainda, se o não
fizerem, além de irem assistir ao asfixiamento da Instituição Militar (que
deviam representar), e à sua desmontagem peça a peça, ainda irão ser acusados de
negligência quando algo falhar no futuro, nem que seja por inanidade.
Deixem-se de frases
ocas e banais e actuem. Cortar repetidamente na qualidade de vida das tropas é
injusto – sobretudo perante os ganhos pornográficos dos «Mexias» cá do burgo –
não resolve nada e só chateia «branco».
Fazer nada, deixou
de ser opção.
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