Pedro Braz Teixeira,
Jornal de Negócios
A judicialização
genérica da política não é uma boa ideia, sobretudo tendo em atenção o estado
em que está a justiça em Portugal. Mas não se compreende nem aceita tanta
impunidade na acção política.
A judicialização da
política é um caminho problemático, sobretudo se baseada em acusações genéricas
do tipo «má gestão do país». Uma das consequências funestas, que
ainda não vi referida, é o potencial afastamento de eventuais possíveis membros
do Executivo, com medo da futura judicialização de decisões governativas.
Dito isto, há várias
questões que merecem reflexão. Diz-se muito que a política deve ser julgada
pelos eleitores e não pelos tribunais. Em primeiro lugar, faltam em Portugal
pessoas e instituições, independentes e prestigiadas, que ajudem os portugueses
a fazer, nas eleições, uma avaliação fundamentada da acção de um Governo.
Em segundo lugar,
temos infelizmente que reconhecer que existem inúmeras acções políticas
destinadas a impedir os eleitores de fazerem uma avaliação bem informada. Não
será legítimo judicializar essas acções políticas?
Há informação falsa
que desvirtua – por completo – as eleições. O ministro Teixeira dos Santos
insistia que o défice público de 2009 seria de 5,9% do PIB, quando os
relatórios internos da DGCI contestavam abertamente este valor. Não é legítimo
colocar o ministro Teixeira dos Santos em tribunal por mentir aos eleitores?
Outra forma de
mentir aos eleitores é usar expedientes contabilísticos e negociatas, para
esconder défices e dívidas públicas aos eleitores. O financiamento das SCUT foi
negociado de modo a que o grosso dos pagamentos ocorresse muitos anos depois do
que Governo que as negociou deixar de estar em funções, sonegando aos eleitores
informação sobre o seu verdadeiro custo. Para além disso são dívida pública
escondida, negociada em condições tais, que custou o dobro da dívida pública
normal. Colocar o ex-ministro João Cravinho em tribunal por ter iludido os
eleitores sobre o verdadeiro custo das SCUT não é judicialização da política
mas sim do dolo. Usando a linguagem do Bloco de Esquerda, as SCUT são o exemplo
acabado da dívida «odiosa» e «ilegítima».
Temos ainda os casos
dos orçamentos que são ultrapassados em 300% e 400%. Este caso é complexo, mas
é crucial acabar com estas situações. São os orçamentos dos concursos que estão
errados de base? Surgem obras adicionais porque todo o projecto foi mal
pensado? Ou os gestores do projecto gastaram à tripa forra?
Existe finalmente o
caso da corrupção pura e dura em que até Isaltino, mesmo depois de condenado,
não é preso. O contrato da auto-estrada do Pinhal Interior foi assinado no
próprio dia em que o Governo de Sócrates – aflitíssimo – teve que pedir ajuda
ao PSD para um pacote alargado de contenção orçamental. Assinar este contrato
naquele contexto é uma tal aberração que é inteiramente legítimo suspeitar que
foi assinado por corrupção. Investigar a assinatura daquele contrato também é
judicialização da política?
A judicialização
genérica da política não é uma boa ideia, sobretudo tendo em atenção o estado
em que está a justiça em Portugal. Mas não se compreende nem aceita tanta
impunidade na acção política.
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