João José Brandão Ferreira
Angola
«O inimigo atira pela porta da
capela paroquial. Salvem-nos. Morremos portugueses.»
Apelo pela rádio dos heróicos defensores de Mucaba antes de
serem salvos pela acção da Força Aérea, 30 de Abril de 1961
Angola possuía uma
dimensão enorme com 1 264 314 Km2 (14,5 vezes a Metrópole), com 4837 km de
fronteira terrestre e 1650 de orla marítima. Luanda estava a 7300 km de
Lisboa e para se atingir Lourenço Marques era preciso
percorrer mais 3000 km.
A maioria da
fronteira terrestre era permeável à guerrilha que se movimentava livremente no
Congo, no Zaire e na Zâmbia. Só as fronteiras da Rodésia e da República da
África do Sul eram seguras para nós.
Angola era
escassamente povoada, apenas com 4.800.000 habitantes (cerca de 4/Km2), dos
quais 95,5% eram negros, 3,5% brancos e 1,1% de mestiços. Existiam 94 etnias
diferentes, distribuídas por nove grupos etnico-linguísticos.
No fim do conflito o
número de combatentes portugueses contabilizava cerca de 70.000 homens e o
inimigo cerca de 11.000.
Eram dois os
principais partidos clandestinos que actuavam em Angola; a União dos povos de
Angola (UPA), mais tarde denominada Frente Nacional de Libertação de Angola
(FNLA) – que chegou a formar o GRAE, governo provisório da República de Angola
no exílio; e o Movimento Popular de Libertação de Angola.
Outros movimentos menores vieram a desaparecer ou a integrar
o MPLA ou a FNLA.
Finalmente surgiu,
em 1966 e apenas no Leste de Angola, a União Nacional para a Independência
Total de Angola (UNITA), que era dissidente da FNLA.
A FNLA foi fundada,
em 1958, em Acra (Gana), era chefiada por Holden Roberto, não era marxista e
era apoiada pelo Zaire; o MPLA, fundado em 1960, era chefiado, desde 1962, por
Agostinho Neto, de linha marxista soviética e apoiado pelo Congo-Brazaville e,
mais tarde (1965), pela Zâmbia; a UNITA, chefiada por Jonas Savimbi, foi criada
no interior de Angola (Moxico), em 1966, apoiava-se no Congo Kinshasa e era de
ideologia algo indefinida.
Todos os três
movimentos lutaram entre si, pela via das armas e diplomaticamente, para
conseguirem o reconhecimento internacional, nomeadamente no seio da OUA. Esta
rivalidade foi sempre muito favorável a Portugal.
O ataque a Angola
teve início com o genocídio efectuado pela UPA a partir de 15 de Março de 1961,
e tinha sido antecedido pelos graves incidentes da Baixa do Cassange, em 11 de
Janeiro de 1960, que foram duramente reprimidos pelas autoridades portuguesas;
e pelo ataque à cadeia de S. Paulo, à Esquadra da PSP e à Casa de Reclusão em
Luanda, em 4 de Fevereiro de 1961.
Tal ataque tinha a
intenção de causar o pânico e a originar a fuga da população branca, mas teve
uma resposta da nossa gente à altura das suas melhores tradições, com a
população a aguentar firme, ajudada com os magros reforços militares logo
enviados. Tal resposta teve a sua definição política e épica, na célebre frase
de Oliveira Salazar: «Para Angola
rapidamente e em força», que só foi possível proferir – é bom que se
recorde – após ter sido frustrada a tentativa de golpe de estado palaciano
encabeçado pelo ministro da defesa Botelho Moniz.
Deste modo, em menos
de seis meses foi reocupado toda a área do norte de Angola afectada pela
subversão e que representava cerca de duas vezes o tamanho de Portugal
continental. Tal acção, é justo recordar, deve-se à acção do notável militar
que foi o General Silva Freire, morto em trágico acidente aéreo, após cinco
meses de ter tomado posse como Comandante-Chefe.
A seguir a esta
recuperação a luta contra a FNLA apertou-se, confinando-a a pequenas bolsas na
área dos Dembos, nunca permitindo o alastramento da subversão para sul,
situação que estava estabilizada em 1965.
Num supremo esforço
a FNLA tentou, nesse ano, uma ofensiva em três locais diferentes, com efectivos
de 3 batalhões, mas foi desbaratada.
O MPLA tentou a sua
sorte em Cabinda, a partir de 1962, mas nunca se fixou no interior do
território por nunca ter tido a adesão da população. Porém, a partir de 1965
tanto o MPLA como a FNLA deixaram de actuar na fronteira de Cabinda.
O MPLA mudou-se,
então, para a fronteira leste, montando as suas bases do outro lado da
fronteira ameaçando directamente os distritos da Lunda, Moxico e Cuando
Cubango. Em Maio de 1966 iniciou a guerrilha e causou séria ameaça no Moxico
até 1970. A estratégia do MPLA consistia em fazer convergir as suas forças do
Norte e do Leste, no Bié, posição central no território.
A UNITA tinha-se
antecipado ao MPLA na subversão das populações do leste de Angola e tentou um
ataque frontal a Teixeira de Sousa no Natal de 1966, onde sofreu uma forte
derrota. A UNITA instalou-se então a Sudeste do Luso e não contava com mais de
500 guerrilheiros vivendo, sobretudo, do saque. Savimbi viria a fazer um acordo
de paz tácito, com as autoridades portugueses que só foi quebrado após o
general Bettencourt Rodrigues ter abandonado o comando da frente leste.
A partir de 1967, as
autoridades portuguesas mudaram a sua estratégia de contra subversão.
Deu-se prioridade à
conquista das populações e ao desenvolvimento socio-económico; centralizou-se e
definiu-se melhor as competências dos diferentes órgãos, a fim de se conseguir
uma melhor coordenação das actividades civis e militares (o que foi alargado
aos outros teatros de operações).
Em 1970, com a
nomeação do general Costa Gomes para Comandante-chefe, este transferiu a
prioridade das acções militares do Norte para o Leste, colocando nesta zona 13
batalhões e criou a Zona Militar Leste com uma área de 600 000 km2 e adaptou todo
o dispositivo. Esta zona passou a ser comandada desde 31 de Março de 1971 pela
grande figura do general Bettencourt Rodrigues. A sua acção, em menos de três
anos derrotou completamente o MPLA e neutralizou a UNITA e estabeleceu a paz e
cooperação com todas as populações gentílicas - a chamada «batalha das almas».
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