terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

PS reabre polémica de Olivença por causa
da Guerra das Laranjas


Luciano Alvarez, Publico


O alcaide de Olivença resolveu festejar a anexação do território há 211 anos. O PS não gostou e tenta impedir a festa. A polémica está aberta entre autarquias dos dois países.

Em 1801 Espanha anexou Olivença ao seu território, retirando aquelas terras a Portugal. Por esses anos a polémica foi muita. Embora a questão nunca tenha sido resolvida, a contenda esfumou-se com o passar do tempo. Agora, o PS volta a trazer a polémica à tona da água.

A culpa, dizem seis deputados socialistas, alguns deles ilustres, é do novo alcaide de Olivença (presidente da autarquia local), Bernardino Píris (Partido Popular), que resolveu comemorar a Guerra das Laranjas de 1801, facto que recorda a batalha que levou à anexação nunca reconhecida internacionalmente, nem resolvida entre Portugal e Espanha.

Por isso, os deputados socialistas Maria de Belém Roseira, Alberto Martins, Basílio Horta, Paulo Pisco, Laurentino Dias e Gabriela Canavilhas pediram ao Governo português que impeça o que chamam de mega produção.

A questão de Olivença é delicada «e tem-se revestido de cuidados especiais, de forma a evitar ferir susceptibilidades históricas e nacionais», diz a nota que os deputados do PS enviaram a Paulo Portas, Ministro dos Negócios Estrangeiros, para que a festa não seja realizada.

«Acontece, no entanto, que após as últimas eleições autárquicas em Espanha, realizadas em Maio de 2011, o Ayuntamento de Olivença passou a ser dirigido pelo Partido Popular, tendo o novo executivo decidido realizar em Junho próximo uma megaprodução que consiste na reconstituição da Guerra das Laranjas, facto histórico que ocorreu em 1801, e que assinala a anexação de Olivença por parte de Espanha», salienta a nota.

Este facto, acrescentou o deputado Paulo Pisco, «chega a parecer esquizofrénico», porque o que o alcaide está a fazer «é celebrar a derrota dos oliventinos» que foram anexados pelos espanhóis.

Para Pisco trata-se de «sensibilizar por meios diplomáticos» para que a festa não se realize, de forma a não «ferir susceptibilidades» nos dois lados da fronteira. Assim, perguntam a Paulo Portas se «tem conhecimento» destes planos e se considera ou não esta celebração «inadequada, dado que Portugal não reconhece a soberania de Espanha sobre Olivença». Perguntam ainda se pondera «intervir, pelo menos diplomaticamente, para que tal reconstituição não se produza».

«Potencial ofensivo»

«Trata-se de celebrar ao longo de 18 dias a derrota da população oliventina, sacrificando questões de identidade histórica a objectivos de natureza turística. Nunca uma evocação deste facto histórico tinha sido feita, precisamente para evitar ferir susceptibilidades. O assunto tem sido muito polémico e tem suscitado muitas críticas de vários sectores dos dois lados da fronteira, precisamente pelo potencial ofensivo e de hostilidade que comporta relativamente a uma situação clara à luz do Direito Internacional, mas ‘de facto’ que ainda não está resolvida», diz ainda o longo texto socialista.

Recordam mesmo um artigo de opinião escrito pelo antigo alcaide de Olivença no jornal Hoy em que este afirma: «A comemoração teatral da Guerra das Laranjas é uma ofensa gratuita que, tendo elevados custos sem trazer nada, cria um problema onde não existia».

Paulo Pisco recusa a ideia de que o PS esteja a reabrir uma polémica do tipo «Olivença é nossa»: «Não tem a ver com isso. Apenas pedimos que se respeite a sensibilidade histórica de um assunto que não está resolvido.»

«Feira luso-espanhola»

A polémica que agora chega a Portugal já dura há quase três meses na região espanhola, especialmente nas páginas do jornal local espanhol Hoy.

Sem comentários: