João José Brandão Ferreira
Guiné
«Não Senhor, tudo isto foi feito pelos portugueses; nós não fizemos
nada, nós só estragámos»
Cor. Celestino de Carvalho
CEMFA da República da Guiné-Bissau – 1996
A Guiné com 36.125
km2 (sensivelmente o tamanho do Alentejo), dos quais apenas 28.000 km2 estavam
acima do nível do mar (os restantes eram submersos diariamente pelas marés). A
Guiné tinha 680 km de fronteira terrestre com a República do Senegal e da
Guiné-Conakri, onde o PAIGC tinha os seus “santuários”. Era à data do início da
subversão, um território pobre, com um clima insalubre, com cerca de 550 000
habitantes divididos por 17 etnias, das quais metade islamizados e metade
animistas. Existiam cerca de 3000 brancos e 5000 mestiços. A maioria da
administração pública era ocupada por cabo-verdianos com escolaridade elevada.
A economia do território era incipiente e baseava-se no sector primário.
Bissau encontrava-se
a 3400 km de Lisboa e a 4000 km de Luanda.
Os movimentos
subversivos na Guiné datam de 1952, ano em que foi criado o Movimento para a
Independência da Guiné, por Amílcar Cabral.
Este movimento
transformou-se, em 1956, no PAIGC dirigido por Rafael Barbosa e o mesmo Amílcar
Cabral. Outros movimentos surgiram, mas não singraram à excepção da FLING, a
Frente de Luta para a Libertação da Guiné, dirigida por Mário Jonas Fernandes.
A partir de 1964 só estes dois movimentos subsistiam, mas a FLING veio a perder
importância face ao crescimento do PAIGC, fortemente apoiado por Sekou Touré,
Presidente da Guiné-Conakri, por Cuba e pela URSS.
A 3 de Agosto de
1959, houve incidentes no cais do Pigiguiti, em Bissau, causados por greves de
que resultaram alguns mortos. Este caso é considerado como o antecedente
próximo do início da guerrilha. O PAIGC não cometeu os mesmos erros que a UPA
em Angola. Preparou melhor os seus quadros; treinou e armou os seus homens e
doutrinou melhor algumas populações antes de iniciar a luta armada. Esta,
porém, já não apanhou as autoridades portuguesas desprevenidas.
No fim do conflito
as tropas portuguesas somavam cerca de 32.000 homens e o PAIGC rondava os 5000
combatentes (mais uns 1500 milícias).
A insurreição armada
teve lugar a 23 de Janeiro de 1963, com o ataque ao quartel de Tite a que se
seguiram acções militares na zona do Xime e na península de Cacine. Daqui o
PAIGC derivou para Nordeste para a região do Boé.
Em fins de 1963 já
se encontravam na Guiné cerca de 16.000 homens idos da Metrópole, que
desenvolveram, ainda nesse ano, a grande operação Tridente na Ilha de Como.
Existem dois grandes
períodos distintos da guerra na Guiné: aquele em que o governador e
comandante-chefe era o Brigadeiro Arnaldo Schultz (entre 1964 e 1968) e outra,
que percorre o período em que tais cargos foram ocupados pelo general António
de Spínola (entre 1968 e 1973). No primeiro período as acções de contra
subversão foram feitas sobretudo em termos de guerra clássica o que não levou a
grandes resultados.
O general Spínola
rodeou-se de um estado-maior maioritariamente escolhido por si e, depois de
estudar a situação do território, elaborou um conceito de acção baseado em
várias frentes: militar, mas agora em termos de acção de contra guerrilha; e
sobretudo no âmbito político, psicológico e socio-económico, tentando
conquistar as populações para o lado português, subtraindo-as à guerrilha. Esta
última acção teve grande sucesso.
Passou a constituir
aldeamentos em auto-defesa, a distribuir armas às milícias e a constituir
unidades militares em que, à excepção dos quadros, todos os combatentes eram
guineenses.
Quando achou a
situação madura, estabeleceu contactos com chefes da guerrilha para estes
desertarem da luta, o que esteve quase a acontecer, vindo porém a terminar num
massacre dos nossos negociadores.
O general Spínola
abandonou algumas áreas do território o que é discutível em termos tácticos e
quis alargar o âmbito das conversações agora com a ajuda do governo do Senegal.
Esta intenção foi impedida pelo governo de Lisboa o que levou a um desaguisado
grave com o Professor Marcello Caetano o que deve ser considerado a origem
remota do 25 de Abril.
Por outro lado o
PAIGC, depois do assassinato do seu líder Amílcar Cabral (efectuado pela ala
mais extremista do movimento e não pela PIDE), veio a intentar um aumento da
acção militar de modo a forçar uma derrota portuguesa.
Esta ofensiva deu-se
a partir de Março de 1973, com a introdução dos mísseis anti-aéreos «SAM-7
Strella», o que acabou com a supremacia aérea, mas não com a superioridade
aérea portuguesa; a que se seguiu um ataque em simultâneo às guarnições de
Guidage na fronteira norte, e Guilege, na fronteira sul. Esta ofensiva militar
culminou com uma ofensiva política, com a declaração unilateral de
independência, em 24 de Setembro desse ano.
Deve acrescentar-se
que esta ofensiva militar foi muito dura mas, no final, foi ganha pelas tropas
portuguesas.
O general Spínola
não quis ficar mais tempo na Guiné e foi substituído pelo general Bettencourt
Rodrigues, talvez o melhor general de todo o sendo XX português. O que era
prova de que o governo de Lisboa não achava que a Guiné estava perdida e a
queria defender.
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