Pedro Braz Teixeira
A saída do euro pode
ocorrer de forma muito caótica, podendo levar ao colapso temporário do sistema
de pagamentos e de distribuição.
O risco de saída de
Portugal do euro tem associados múltiplos riscos, dos quais gostaria de
salientar três: o risco do colapso temporário do sistema de pagamentos, o risco
do colapso temporário do sistema de distribuição de produtos e o risco de perda
– definitiva – de valor de inúmeros activos (depósitos à ordem e a prazo,
obrigações, ações e imobiliário, entre outros).
Considero que todos
os portugueses devem «subscrever» seguros contra estes riscos, tal como fazem
um seguro contra o incêndio da sua própria casa. Quando se compra este seguro,
o que nos move não é a expectativa de que a nossa casa sofra um incêndio nos
meses seguintes, um acontecimento com uma probabilidade muito baixa, mas sim a
perda gigantesca que sofreríamos se a nossa habitação ardesse.
Quais são as
consequências imediatas de Portugal sair do euro? A nova moeda portuguesa (o
luso?) sofreria uma desvalorização face ao euro de, pelo menos, 20%. Todos os
depósitos bancários seriam imediatamente transformados em lusos, perdendo, pelo
menos, 20% em valor. Todos os depósitos ficariam imediatamente indisponíveis
durante algum tempo (dias? semanas?) e não haveria notas e moedas de lusos,
porque o nosso governo e o Banco de Portugal não consideram necessário estarmos
preparados para essa eventualidade.
O mais provável é
que a saída do euro fosse anunciada numa sexta-feira à tarde, havendo apenas o
fim-de-semana para tratar da mudança de moeda. Logo, na sexta-feira os bancos
retirariam todas as notas de euros das máquinas de Multibanco e quem não
tivesse euros em casa ou na carteira ficaria sem qualquer meio de pagamento.
Durante algumas
semanas (ou mais tempo) teríamos um colapso do sistema de pagamentos e,
provavelmente, também um corte nos fornecimentos. As mercearias e os
supermercados ficariam incapazes de se reabastecer, devido às dificuldades associadas
à troca de moeda.
Estes «seguros» de
que falo, contra este cenário catastrófico, não podem ser comprados em nenhuma
companhia de seguros, mas podem ser construídos por todos os portugueses,
estando ao alcance de todos, adaptados à sua realidade pessoal.
O que recomendo é
algo muito simples que – todos – podem fazer. Ter em casa dinheiro vivo num
montante da ordem de um mês de rendimento e a despensa cheia para um mês. Esta
ideia de um mês de prevenção é indicativa e pode ser adaptada à realidade de cada
família.
Não recomendo que
façam isso de forma abrupta, mas lentamente e também em função das notícias que
forem saindo. De cada vez que levantarem dinheiro, levantem um pouco mais que
de costume e guardem a diferença. De cada vez que fizerem compras tragam mais
alguns produtos para a despensa de reserva. Aconselho que procurem produtos com
fim de validade em 2013 ou posterior, mas, nos casos em que isso não seja
possível, vão gastando os produtos de reserva e trocando-os por outros com
validade mais tardia. Desta forma, sem qualquer ruptura, vão construindo
calmamente os vossos seguros contra o fim do euro.
Quanto custará este
seguro? Pouquíssimo. Em relação ao dinheiro de reserva, o custo é deixarem de
receber os juros de depósito à ordem, que ou são nulos ou são baixíssimos. Em
relação aos produtos na despensa de reserva, é dinheiro empatado, que também
deixa de render juros insignificantes.
Quais são os
benefícios deste seguro? Se o euro acabar em 2012, como prevejo, o dinheiro em
casa não se desvaloriza, mas o dinheiro no banco perderá, no mínimo, 20% do seu
valor. Além disso terá o benefício de poder fazer pagamentos no período de
transição, que se prevê extremamente caótico. A despensa também pode prevenir
contra qualquer provável ruptura de fornecimentos, garantindo a alimentação
essencial no período terrível de transição entre moedas. Parece-me que o
benefício de não passar fome é significativo.
E se, por um
inverosímil acaso, a crise do euro se resolver em 2012 e chegarmos a 2013 com o
euro mais seguro do que nunca? Nesse caso – altamente improvável – a resposta
não podia ser mais simples: basta depositar no banco o dinheiro que tem em casa
e ir gastando os produtos na despensa à medida das suas necessidades.
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